A Igreja Católica holandesa está com falta de padres, mas parece ter encontrado uma solução para o problema: a importação de sacerdotes de países como Colômbia e República Democrática do Congo. O novo arcebispo de Utrecht, o monsenhor Willem Jacobus Eijk, ao contrário de seu antecessor, o padre Simonis, tem menos problemas com a idéia de importar religiosos. Sendo assim, os preparativos estão a todo vapor para a chegada de cem padres à Holanda.
Que a Holanda vá bater na porta da Colômbia e da República Democrática do Congo, onde, no passado, foram enviados missionários e bastante dinheiro para suas missões naqueles países, não deixa de ser irônico. Mas sinaliza de que a situação é grave. Com quatro milhões de fiéis na Holanda, a Igreja Católica está vendo seus templos cada vez mais vazios. No ano passado, 322 mil holandeses visitaram semanalmente as igrejas, 25% a menos que em 2000.
Segundo o padre Rob van Hellenberg Hubar, da Fundação Pastoral Religiosa, a falta de sacerdotes explica a ausência de fiéis. Em 1980, havia no país cerca de 43 mil padres. Hoje, o número caiu pela metade. Por isso, afirma Hellenberg, menos celebrações da Eucaristia podem ser realizadas. E acrescentou: "A celebração da Eucaristia é o ponto alto de todas as atividades da Igreja, e uma quantidade menor de fiéis representa menos arrecadação nas igrejas."
Leigos
Padres estrangeiros podem ajudar a mudar esta situação delicada. Mas também está em jogo um outro tipo de problema. Nos últimos anos, a falta de padres para celebrar a eucaristia, o ponto alto da missa, resultou em mais trabalho para leigos, principalmente mulheres, principalmente nos serviços de comunhão e trabalhos pastorais.
As autoridades da Igreja estão preocupadas com a situação na Holanda. Em alguns casos, os líderes católicos exigem o fim dos serviços de comunhão por parte dos leigos, antes de enviar padre a alguma paróquia. No entanto, muitos acreditam que os padres importados da Colômbia e do Congo não vão resolver o problema holandês. Ao contrário da situação nestes dois países, a Igreja nos Países Baixos é mais livre e segue menos à risca as ordens do Vaticano.
Choque cultural
Mas não é a primeira vez que a Holanda importa sacerdotes. O antigo arcebispo de Utrecht, padre Simonis, chegou a importar padres da Polônia e da Índia. Entretanto, muitos paroquianos deixaram de freqüentar a igreja por não se identificarem com os pontos de vista mais tradicionais dos religiosos estrangeiros. Após uma experiência com poucos resultados, Simonis desistiu da idéia.
No entanto, seu sucessor, o monsenhor Eijk, não pensa assim. Em seu trabalho anterior, no bispado de Groningen, já tinha recebido nove estudantes colombianos para o sacerdócio. Ao contrário de Simonis, Eijk é conhecido por uma linha bastante tradicional dentro da Igreja, bem ao gosto dos burocratas do Vaticano.
Experiência muçulmana
A comparação com o Islã também coloca mais lenha na fogueira da Igreja Católica holandesa. Há alguns anos, houve um acirrado debate sobre a importação de imãs de países conservadoras, enviados para a Holanda para tentar frear o liberalismo da comunidade muçulmana nos Países Baixos. Os imãs acabaram espalhando seus conceitos tradicionais sobre a sociedade em temas polêmicos como homossexualismo e o papel da mulher, o que provocou controvérsia em todo o país.
O padre Rob van Hellenberg Hubar, da Fundação Pastoral Religiosa, acredita que não haverá grandes problemas com a integração dos sacerdotes importados. "Eles já aprendem o holandês em seus países de origem e, uma vez na Holanda, vão receber do bispado um curso de integração", diz. Mas, segundo ele, os católicos holandeses também têm que se preparar para abrir o diálogo com os padres expatriados.
Dos fracassos anteriores, a Igreja Católica da Holanda aprendeu uma lição. Não fará um convite individual a padres, mas, sim, dentro de grandes ordens religiosas e congregações. "Assim, os novos padres recebem mais apoio para lidar com as problemáticas holandesas", informa Hellenberg.
Perro de Jong*
Radio Nederlands Wereldomroep
14-05-2008
*Adaptação: Luís Henrique de Freitas Pádua