quinta-feira, 22 de abril de 2010

O choro pode durar uma noite...




Véspera de feriado! Fim de aula e uma alegria me domina: “amanhã vou poder dormir até dar uma dor”, grito eu saindo correndo da UFRN, após mais um dia de rotina.

Ônibus, amenidades jogadas no ar como de costume ao longo da viagem... Tudo parece caminhar bem, pelo menos dentro do esperado.
Parecia! O telefone toca e uma das maiores, se não a maior, prova da minha vida está lançada: “Estou levando sua mãe para o hospital!”. A frase que mais me causa temor foi dita e não era sonho (na verdade, pesadelo).
Correr, correr, correr... O tempo insistia em não me deixar chegar perto. Cabeça a mil; possibilidades; dúvidas; cogitações; e por fim, a esperança de ser algo simples, ainda que no fundo no fundo pressentisse que as coisas não seriam.
Primeiros exames feitos. Cara de dúvida. Mais exames. Conversas entre médicos; o bip do aparelho que monitorava os batimentos cardíacos do senhor que estava na mesma sala de repouso insistindo em ser a trilha sonora daquele momento de tensão. E a decisão é tomada: “vamos operar!”
Como assim? Operar? É inevitável e precisa ser rápido. Não há tempo para detalhar nada para um filho em pânico, muito menos para perguntar se ele não queria trocar de lugar com sua mãe. Há essa hora, a fisionomia daquela mulher que sempre diz que está tudo bem e que vai dar tudo certo, muda... É Italo! Você realmente precisa ser forte. Mas não sou!

As orações e as súplicas aumentam. Os celulares tocam repetidamente. As mesmas explicações e o discurso mais sucinto é repetido para evitar o desespero alheio. E o meu? Quem quer evitar?
A porta do pré-operatório se fecha. Agora seu eu, sozinho, numa sala de espera com mais de 20 cadeiras vazias, luzes brancas que não se apagam, uma TV que só sintoniza o SBT... É nesse cenário que as 5 horas mais difíceis da minha vida tiveram início, após um abraço e um beijo que repreendiam o medo.

Deito... levanto... A mulher da limpeza aparece e ameaço um bate-papo. Ela não tem tempo e me deixa com um “Vai dar tudo certo”. Volto a ficar sozinho e por um segundo acho que é um sonho. Acordo com o barulho do elevador. Um homem com uma caixa de isopor me olha, mas não me dá bom dia. Chama o enfermeiro, que abre uma das portas e solta a frase “Tem que ser urgente! A paciente está perdendo muito sangue.” Meu Deus! Eu tô aqui. Eu tenho sangue! O mesmo dela. Corro. Pergunto. Ele me olha e após pensar diz: “não está acontecendo nada”. Porta fechada.

Percebo que o dia já amanheceu. E apesar de urgente o sangue não chegou. O que fazer? Pra quem apelar? Uma enfermeira passa apressada. “Moça me diga o que tá acontecendo!”. “Não se preocupe. Está acabando”. O que está acabando? O sangue chega. Ufa!
Duas horas depois, realmente acabou! As coisas não foram tão simples como estava planejado. Não foram mesmo. Mas acabou. Obrigado! Obrigado! Obrigado!

A força de T, que esteve o tempo todo acompanhando a intervenção, e a confirmação de que está tudo bem chega e me acalma. Duas enfermeiras aparecem e também percebem meu interesse por notícias, para não dizer desespero. Elas parecem querer me consolar. No fim, as consolo. Sentem falta de seus filhos: um, esquece de apreciar a graça de viver sua mãe. O outro, não teve a chance e aos 13 anos “foi atropelado alí embaixo, naquela esquina”, conta a senhora enxugando as lágrimas.

A cirurgia acabou. Ela passa por mim, ainda desacordada, e entra na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Não se preocupe. Isso é de praxe”, ouço. O médico me pede para rezar. Não me preocupo. Tenho feito isso desde que entrei naquele hospital.

Agradecimentos feitos e informações sobre o estado de saúde dela colhidas, vou para casa. É hora de acalmar os ânimos dos demais. Estou cansado, mas cheio de FÉ e ESPERANÇA de que tudo realmente vai acabar bem. Sei que vai!

E assim meu feriado começou. E assim eu pude vivenciar, em minha carne, que “O choro pode durar uma noite. Mas a alegria, a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5).

Obrigado pela torcida e oração de todos!
Obrigado!
 
Italo Amorim =D