CONCENTRAÇÃO
Uma prática indispensável para celebrar bem
Concentrar-se é uma atitude natural e indispensável antes de qualquer atividade humana importante. Indispensável para que a ação se realize da maneira mais perfeita e equilibrada possível. E quanto mais importante e exigente é, mais concentração exige. Antes de atuarem no palco, os atores de teatro se recolhem e se concentram. Os atletas, antes de entrarem em ação, mergulham em rigorosa concentração. O médico, antes de realizar uma delicada cirurgia, tem que se concentrar muito. Um músico, antes de iniciar um importante concerto, tem que se concentrar.
Concentrar-se significa “entrar em sintonia com o centro” (com aquilo que é central, essencial). Aquietar e silenciar a mente e o corpo e, libertando-se de todo “ruído” que distrai, mergulhar fundo no único foco de atenção, a saber: a beleza da ação que se vai realizar.
E na liturgia cristã? Sabemos que ela é ação por excelência. Por ela se estabelece um diálogo amoroso e comprometido (pascal) entre Deus e seu povo e vice-versa. Eis o seu centro, seu essencial. E quem são os atores dessa ação? Toda a assembléia, composta de muitos ministérios, desde quem preside até a pessoa que atua simplesmente somando com os outros pela sua presença e participação. Todos e todas, cada qual com seu papel, atuam no “teatro” da ação ritual da divina Liturgia. Supondo-se, é claro, que o ator principal é o próprio mistério de Deus.
Se a liturgia é isso, trata-se de uma atividade humana e divina de altíssima importância, a mais importante. O Concílio Vaticano II a chama de “cume e fonte para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, fonte donde emana toda a sua força” (Constituição sobre a Liturgia, n. 10). E, portanto, se assim é, não exigiria ela (sobretudo ela!) dos seus atores uma concentração prévia muito mais intensa? Com certeza que sim! Para que todos participem de fato da liturgia de maneira plena, consciente, ativa, externa e interna (exterior e interior), fácil, piedosa e frutuosa, como é desejo da Igreja (cf. idem, n. 11, 14, 18, 19, 21, 27, 30, 41, 48, 50, 53, 55, 79, 100, 114, 118, 121, 124 etc.), é mais que natural que haja por parte de todos os atores da celebração um momento de cuidadosa concentração prévia.
A Instrução Geral sobre o Missal Romano alude a isso, usando a palavra “silêncio”: “Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na igreja, na sacristia, na secretaria e mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados mistérios” (n. 45).
Em muitas comunidades já está se adotando o costume de um momento de concentração antes de iniciar a celebração litúrgica. O sacerdote se recolhe em oração pessoal; diante de Deus aquieta o seu coração. Há sacerdotes que costumam se juntar aos demais ministros, na sacristia ou à porta de entrada da igreja, para um momento silencioso de oração, pedindo ao Espírito Santo a sabedoria para o exercício de cada ministério... Na própria assembléia se canta um refrão meditativo... Tudo vai criando um clima de compenetração para a grande ação humana e divina, a celebração da divina Liturgia.
A qualidade orante da participação litúrgica, então, só tem a ganhar e o povo com certeza agradece...