Bispo que rejeitou homenagem do Congresso lidera movimento para atrelar o reajuste dos parlamentares ao aumento do salário mínimo
INDIGNAÇÃO
Dom Edmilson diz que o brasileiro já
Dom Edmilson diz que o brasileiro já
não suporta tanto desrespeito
Os políticos costumam ser generosos quando seus salários são o assunto. Não há crise ou urgência de corte de gastos públicos que os constranjam.
Cada deputado federal passou a custar R$ 1,4 milhão anuais para o contribuinte.
Invariavelmente, eles reajustam seus ganhos bem acima do patamar conseguido a duras penas pelos trabalhadores brasileiros. O último aumento auto-concedido pelos congressistas foi de nada menos que 61%, o que, considerando salários e benefícios, elevou para R$ 2 milhões o custo anual de cada um dos 81 senadores.
Mas este agrado ao próprio bolso, acertado com rapidez no final do ano passado, acabou provocando um movimento que se espalha pelo País: a defesa de uma lei que atrele o reajuste salarial dos parlamentares ao do salário mínimo e das aposentadorias.
"O Congresso não tem ninguém do porte
de um Nelson Mandela, que baixou em
50% o valor de seus honorários”
de um Nelson Mandela, que baixou em
50% o valor de seus honorários”
No centro da articulação por esta nova lei está o bispo emérito de Limoeiro do Norte, no Ceará,dom manuel Edmilson da Cruz. Ele vem recebendo e-mails de todo o País incentivando-o a assumir a liderança de uma campanha destinada a controlar o apetite dos parlamentares. Dom Edmilson, aos 86 anos, foi o responsável pela reação direta ao último aumento abusivo.
Ele tinha sido convidado ao Senado, em dezembro, para receber a comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara, por sua luta em favor dos menos favorecidos do Nordeste. Da própria tribuna do Senado, no entanto, recusou a condecoração e deu um sermão nos parlamentares: “Isso (o aumento de 61%) é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte”, disse dom Edmilson. “A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Helder Câmara.
Desfigura-a.” Com quase 50 anos como bispo e acostumado a enfrentar os poderosos do Nordeste – inclusive criticando frente a frente generais que pontificavam na época da ditadura militar –, ele afirma que o “representante do povo” que votou a favor do aumento não é digno de tal função. “Isso não é um parlamentar, é ‘para lamentar’.”
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