sexta-feira, 6 de março de 2009

UMA POLÊMICA SOBRE JUSTIÇA !

Começamos em nossa comunidade os nossos trabalhos com vista a atender o chamado da Igreja e contribuir com a reflexão e instauração de uma cultura de Paz. Mas paz é fruto da justiça já disse o profeta Isaías.

Pois bem, no Brasil a maior autoridade do poder responsável em distribuir justiça chama-se Sr. Gilmar Mendes, Ministro Presidente do Supremo Tribunal Federal. Nunca um presidente daquele poder foi tão criticado como ele. Ele terminará o seu mandado estigmatizado como o Juiz que trabalhou noite a dentro para soltar o banqueiro famoso (Daniel Dantas). Será que ele teria o mesmo afinco se fosse um brasileiro pobre?

Vejam o que Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges, Presidente da Comissão Pastoral da Terra, falou a respeito do Sr. Gilmar Mendes:

“Ai dos que coam mosquitos e engolem camelos” (MT 23,24)

A Coordenação Nacional da CPT diante das manifestações do presidente do STF, Gilmar Mendes, vem a público se manifestar.

No dia 25 de fevereiro, à raiz da morte de quatro seguranças armados de fazendas no Pernambuco e de ocupações de terras no Pontal do Paranapanema, o ministro acusou os movimentos de praticarem ações ilegais e criticou o poder executivo de cometer ato ilícito por repassar recursos públicos para quem, segundo ele, pratica ações ilegais. Cobrou do Ministério Público investigação sobre tais repasses.

No dia 4 de março, voltou à carga discordando do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, para quem o repasse de dinheiro público a entidades que “invadem” propriedades públicas ou privadas, como o MST, não deve ser classificado automaticamente como crime.O ministro, então, anunciou a decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do qual ele mesmo é presidente, de recomendar aos tribunais de todo o país que seja dada prioridade a ações sobre conflitos fundiários.

Esta medida de dar prioridade aos conflitos agrários era mais do que necessária. Quem sabe com ela aconteça o julgamento das apelações dos responsáveis pelo massacre de Eldorado de Carajás, (PA), sucedido em 1996; tenha um desfecho o processo do massacre de Corumbiara, (RO), (1995); seja por fim julgada a chacina dos fiscais do Ministério do Trabalho, em Unaí, MG (2004); seja também julgado o massacre de sem terras, em Felisburgo (MG) 2004; o mesmo acontecendo com o arrastado julgamento do assassinato de Irmã Dorothy Stang, em Anapu (PA) no ano de2005, e cuja federalização foi negada pelo STJ, em 2005.

Quem sabe com esta medida possam ser analisados os mais de mil e quinhentos casos de assassinato de trabalhadores do campo. A CPT, com efeito, registrou de 1985 a 2007, 1.117 ocorrências de conflitos com a morte de 1.493 trabalhadores. (Em 2008, ainda dados parciais, são 23 os assassinatos). Destas 1.117 ocorrências, só 85 foram julgadas até hoje, tendo sido condenados 71 executores dos crimes e absolvidos 49 e condenados somente 19 mandantes, dos quais nenhum se encontra preso. Ou aguardam julgamento das apelações em liberdade, ou fugiram da prisão, muitas vezes pela porta da frente, ou morreram.

Causa estranheza, porém, o fato desta medida estar sendo tomada neste momento. A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los? Pelo que se pode deduzir da fala do presidente do STF, “faltam só dois anos para o fim do governo Lula”… e não se pode esperar, “pois estamos falando de mortes” nos parece ser a segunda alternativa, pois conflitos fundiários, seguidos de mortes, são constantes. Alguém já viu, por acaso, este presidente do Supremo se levantar contra a violência que se abate sobre os trabalhadores do campo, ou denunciar a grilagem de terras públicas, ou cobrar medidas contra os fazendeiros que exploram mão-de-obra escrava?

Ao contrário, o ministro vem se mostrando insistentemente zeloso em cobrar do governo as migalhas repassadas aos movimentos que hoje abastecem dezenas de cidades brasileiras com os produtos dos seus assentamentos, que conseguiram, com sua produção, elevar a renda de diversos municípios, além de suprirem o poder público em ações de educação, de assistência técnica, e em ações comunitárias. O ministro não faz a mesma cobrança em relação ao repasse de vultosos recursos ao agronegócio e às suas entidades de classe.

Pelas intervenções do ministro se deduz que ele vê na organização dos trabalhadores sem terra, sobretudo no MST, uma ameaça constante aos direitos constitucionais.

Como grande proprietário de terra no Mato Grosso O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Ele é um representante das elites brasileiras, ciosas dos seus privilégios. Para ele e para elas os que valem, são os que impulsionam o “progresso”, embora ao preço do desvio de recursos, da grilagem de terras, da destruição do meio-ambiente, e da exploração da mão de obra em condições análogas às de trabalho escravo.

Gilmar Mendes escancara aos olhos da Nação a realidade do poder judiciário que, com raras exceções, vem colocando o direito à propriedade da terra como um direito absoluto e relativiza a sua função social. O poder judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes. Exemplo disso foi a veloz libertação do banqueiro Daniel Dantas, também grande latifundiário no Pará, mesmo pesando sobre ele acusações muito sérias, inclusive de tentativa de corrupção.

O Evangelho é incisivo ao denunciar a hipocrisia reinante nas altas esferas do poder: “Ai de vocês, guias cegos, vocês coam um mosquito, mas engolem um camelo” (MT 23,23-24).

Que o Deus de Justiça ilumine nosso País e o livre de juízes como Gilmar Mendes!

Goiânia, 6 de março de 2009.

Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges- Presidente da Comissão Pastoral da Terra


Ministro Gilmar Mendes



VOCÊ LEMBRA DA CF 2008?

HINO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2008 BY GLM

Com carinho, desenhei este planeta;
Com cuidado, aqui plantei o meu jardim.


Com alegria, eu sonhei um paraíso,
Para a vida dom de amor que não tem fim.


Ponho, então, à tua frente
Dois caminhos diferentes:
Vida e morte, e escolherás.


Sê sensato: escolhe a vida!
Parte o pão, cura as feridas!

Sê fraterno e viverás

Fiz o homem e a mulher à minha imagem;
Por amor e para o amor eu os criei.


Com meu povo celebrei uma Aliança.

O caminho da justiça eu ensinei.

Com tristeza vejo a vida desprezada,
Nos meus filhos e em toda a natureza.

Me entristece tantas vidas abortadas,
Dói em mim a violência e a pobreza.


Pelas margens desta vida há tanta gente
Que implora por justiça e dignidade.


Respeitar, cuidar da vida é o que te peço;
Vai! Transforma a tua fé em caridade!

EVANGELHO DO DIA

Ano B - Dia: 06/03/2009


Sempre, "fazes as pazes", amar
Mt 5,20-26

Pois eu afirmo a vocês que só entrarão no Reino do Céu se forem mais fiéis em fazer a vontade de Deus do que os mestres da Lei e os fariseus. - Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: "Não mate. Quem matar será julgado." Mas eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva do seu irmão será julgado. Quem disser ao seu irmão: "Você não vale nada" será julgado pelo tribunal. E quem chamar o seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno. Portanto, se você estiver oferecendo no altar a sua oferta a Deus e lembrar que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a sua oferta ali, na frente do altar, e vá logo fazer as pazes com o seu irmão. Depois volte e ofereça a sua oferta a Deus. - Se alguém fizer uma acusação contra você e levá-lo ao tribunal, entre em acordo com essa pessoa enquanto ainda é tempo, antes de chegarem lá. Porque, depois de chegarem ao tribunal, você será entregue ao juiz, o juiz o entregará ao carcereiro, e você será jogado na cadeia. Eu afirmo a você que isto é verdade: você não sairá dali enquanto não pagar a multa toda.


Comentário do Evangelho
O amor defende a vida

Jesus nos dá um preceito mais abrangente do que o antigo "não matarás". Qualquer ódio, desprezo, discriminação ou indiferença no coração, em relação ao irmão, já é um atentado a ele. "Não matarás" significa: não atentarás contra a vida de forma nenhuma, pela violência ou pela injustiça. As forças que escudam a economia de mercado e o poder financeiro matam ostensivamente pela guerra ou, ocultamente, pelos agentes de seu serviço secreto. E o próprio mercado, na injusta apropriação dos bens necessários à sobrevivência das pessoas, mata pela extinção lenta da vida, na exclusão, na doença e na fome. O preceito "não matarás" é superado pela disposição pessoal, amorosa e misericordiosa em perdoar, reconciliar e solidarizar com o irmão, em vista da acolhida, na comunhão