Padre Tiago, o linguista russo Mikhail Bakhtin postula que o nosso discurso (a nossa fala) é o resultado de todos os contatos com a linguagem que tivemos desde a nossa mais tenra idade. Já o psicólogo bielorrusso Lev Vigostky diz que nós somos fruto da interação com o mundo, somos seres sócio-histórico-culturais.
Concordamos com ambos, e nos perguntamos quanto do nosso discurso, de nossas palavras não são suas, Padre Tiago – “a fé sem obras é morta” ou “oração pressupõe ação” ou “quem quer seguir a Jesus Cristo , deve pegar sua cruz também”, entre tantas.
Quantas de nossas atitudes e de nossas decisões não passaram consciente ou inconscientemente por ideias do senhor? (Quantas homilias, históricas e morais em várias situações não nos marcaram?)
Portanto, Padre Tiago, não se trata de partida, pois conosco estarás sempre, não só em forma de lembrança, mas como fizesse parte de nosso DNA; estarás com nossos filhos e com os filhos de nossos filhos. É uma marca indelével.
Claro que isso não é um privilégio exclusivo do senhor, evidente. O privilégio, Padre Tiago, reside nessa marca posta, no melhor dos sentidos, em um número incontável de pessoas; e, nesse sentido, sua missão maior como pastor (DADA POR DEUS) está cumprida. Já dizia Dalai Lama em um de seus tantras: “Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar mais velho e olhar para trás, poderá aproveitá-la mais uma vez.”
Não se trata de vanglória – como o nome invertido revela seu teor “glória vã”, inútil, sem valor, que não presta, que não serve. Para uma boa cabeça, como a do senhor, é olhar criticamente para o que foi feito e saber que, na sua imperfeição (característica plena nossa), foi uma pessoa santa. Santa SIM.
Na moradia humilde de Bom Pastor, da calça azul-escura e da camisa clara de mangas curtas (que gerava uma brincadeira: “Quando padre Tiago chega ao seu guarda-roupa, ele se pergunta: “que roupa vou usar, meu Deus?” – dúvida cruel – rsrsrsrs), da estética simples e estrutura funcional dos templos construídos (traço que o tempo dificilmente levará), da forma de andar, do ônibus antigo (onde está ele?), do mesmo penteado, do jeito de falar TUDO BEM, quando na verdade está discordando, etc.
Tanto para falar – mas vamos deixar para o senhor e para os outros relembrarem o restante –, pois não é o momento nem o gênero textual adequado para alongarmo-nos. Sendo assim, a caminho do fim, diante de tantas outras citações, citaremos as que mais nos influenciam: as de Jesus: “Ide e pregai o Evangelho, a toda a criatura..." (Mc 16:15); “Quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo”(Mateus 20, 27);” Negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Marcos 8.34); e o maior de todos: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, que poderia ser o resumo de todos os mandamentos, e o que o senhor tentou tanto observar.
É isso! Lágrimas podem rolar em vários rostos, e isso é bom, pois é uma forma de reconhecimento e também porque é uma metáfora de que, como as águas buscam seu caminho, as coisas e situações continuam – nem melhores, nem piores, apenas continuam.
A certeza que nós temos é da saudade já iminente e eminente, mas que faz parte também da vida, não é verdade?
Portanto, muito obrigado por tudo, Padre Tiago. Pelo que é tangível, palpável e pelo que não é. Que Deus continue lhe abençoando, pelos séculos dos séculos, AMÉM!
Antonio Carlos G. Júnior
Texto para Padre Tiago – 18 de julho de 2010