"Não Podemos cometer excessos"
ENTREVISTA / Dom Matias Patrício de Macêdo - Arcebispo Metropolitano de NatalO que são as missas de cura e libertação?
Dom Matias: Toda missa é de cura. Não existe no ritual da Igreja uma missa de cura e libertação. O que pode existir é missa com oração de cura e de libertação, como existe missa em ação de graças pelo aniversário de alguém, também pode se pedir pela cura de uma pessoa. Mas toda missa é uma só! Há, às vezes, excessos dos participantes, provocados, até pelos próprios celebrantes, como o Repouso do Espírito. Em algumas missas, alguns sacerdotes, convidam o povo a fazer o Repouso do Espírito, que é uma espécie de êxtase, as pessoas caem, entram em transe. Isso são excessos, que a Igreja aconselha que não sejam cometidos
Então qual a diferença da missa tradicional?
Repito, a missa é uma só! Não existe uma missa diferente da outra. A diferença está nas intenções de cada um e elas podem ser as mais diversas. Como por exemplo, as missas de aniversário, de formatura, pedindo a Deus a graça dos formandos serem bons profissionais ou pelo dom da vida de alguém. Existe até uma orientação por parte da Igreja, que não se diga missa de cura e libertação melhor dizer com orações e pedidos de cura.
O que o senhor acha dessas missas?
Eu acho que os nossos queridos padres deviam ter mais cuidado com relação a esses tipos de missas. O cuidado de obedecer ao ritual, a liturgia e não exceder-se em ritos que não fazem parte da liturgia porque o momento da missa não é oportuno, já que não existe no ritual da missa um espaço para isso. Para mim a hora da missa não é momento de fazer o ´repouso do espírito` ou 'orar em línguas'. É hora de orar na língua da gente. Houve um tempo que nós rezávamos a missa em Latim e para tornar mais compreensível e tornar maior a participação dos fiéis passamos a celebrar na língua vernácula. E agora inventaram essa história de orar em línguas. Quem entende orar em línguas? Eu também não entendo.
Mas orar em línguas não é um dom?
É um dom, mas o dom da vida é alguém explicar o que é dizer isso. Será que aqueles sons têm explicação? Eu diria que esse orar em línguas seria mais expressivo se dissessem que era uma expressão melodiosa. É uma melodia de louvar a vida, louvar a Deus.
Essa foi uma forma que a Igreja Católica encontrou de atrair mais fiéis?
Pode ser, eu admito que pode ser. A própria Renovação Carismática Católica é uma coisa aprovada pela Igreja e que tem feito muita coisa boa, a muita gente. O que a gente recomenda é ter cuidado com os excessos. Se quiserem louvar a Deus, agradecer a Deus, mas é preciso que a gente una a fé com a vida. O nosso louvor com ação que a gente faz para os irmãos necessitados. Não adianta a fé sem as obras de caridade.
O senhor tem conhecimento de paróquias do Rio Grande do Norte que realizam as missas de cura e libertação?
Que me consta, eu sei da que é celebrada por Padre Nunes e de uma que está sendo celebrada em Santo Antônio do Potengi.
Por que tanta gente vai a essas missas?
Eu tenho a impressão de que há um desejo muito grande da pessoa se curar mesmo. E quando se anuncia uma coisa dessas, as pessoas se interessam porque o desejo de cura é muito grande. Acontece que, às vezes, nós não temos instrumentos adequados para a cura das doenças, não estão ao alcance de todos, um serviço de saúde bem organizado. E ainda tem esse aspecto de se desejar tanto a cura, que vale tudo.
O senhor acredita que essas pessoas são realmente curadas?
É claro que pela oração é possível uma pessoa se curar. Para Deus nada é impossível.
Muita gente vai para essas missas em busca de uma cura. E nem todo mundo consegue alcançar esse objetivo. O senhor não acredita que essa decepção pode acabar provocando o afastamento dos fiéis?
Pode acontecer, mas eu vejo que as pessoas sempre têm a esperança de conseguir a cura. Se não conseguir agora pode conseguir mais na frente.
Existem alguns padres e fiéis mais tradicionais que não concordam com os novos movimentos da Igreja, como por exemplo, a Renovação Carismática e as missas de cura e libertação. O que a Igreja tem feito para conciliar os mais tradicionais com os mais modernos?
O que se faz é recomendar que se tenha cuidado com excessos, não exagere porque todo exagero é prejudicial. Tirando os exageros, a Igreja vê com bons olhos. É unir os dois lados e fazer com que dali a gente saia mais disposto a ser fraterno, solidário, partilhar.
Carla França - Repórter
Tribuna do Norte Online