Nos últimos tempos, trafegando pelas ruas de nossa cidade, veio-me a lembrança de um fato pitoresco acontecido no início da minha adolescência.
Minha casa em reforma, mestre pedreiro necessitando de novo servente, pois o primeiro havia desistido...; então, para não ter mais “dor de cabeça” e “economizar”, sobrou a vaga para mim e meu irmão – em plenas férias de final de ano!
“Será divertido”, pensei num primeiro momento. Não foi. E, pior, em via média de execução da obra – o contra-piso do quarto –, aconteceu um acidente comigo.
Eu vinha com o carrinho de mão em “alta velocidade” – para ter o mínimo de emoção naquele marasmo –; saí do quarto, entrei pela cozinha, cheguei à área de serviço, mirei a tábua que ligava-a ao quintal (uma altura de uns trinta centímetros do chão), errei... Como vinha rapidamente, o para-choque do carrinho tocou o solo ao lado da tábua, que serviu de base para a alavanca que uma das duas hastes de segurar o carrinho se tornou. Ela entrou quase embaixo de minha axila direita, levantando-me do chão e jogando-me a quase três metros. Caí. Susto grande. Nenhum arranhão. “Ufa!”, pensei equivocadamente de novo; havia um ferimento que, com certeza seria alvo de ponto, bem perto da axila, que não me deixava nem levantar o braço. Solicitamente, minha vizinha fez um curativo e o ferimento, dali a dois meses, estava sarado, mas...
Isso mesmo: QUELOIDE. O local da lesão ficou “desnivelado” em relação à pele em seu entorno, mesmo com o ferimento já sarado. Para quem não sabe direito o que é, é uma espécie de pele sobre a pele; funcionalmente não influi em nada, porém esteticamente...
Atualizemos o contexto que me inspirou a escrever. Percorro muito nossa cidade – em todas as suas zonas. E, ultimamente, boa parte das ruas de leste a oeste, de norte a sul da capital potiguar está com aparência de queloide.
A prefeitura teve o bom senso e a hombridade de se preocupar em realizar obras de drenagem e/ou saneamento, todavia, para variar, ou não fiscaliza o feito ou quem fiscaliza é incompetente. Ruas e avenidas por onde eu trafegava com prazer, pois parecia até uma superfície de porcelanato (desculpe-me a hipérbole), agora é alvo de minha indignação. Piso irregular, ora com buracos, ora aparentando as famosas “costelas de vaca”, comuns em estradas de pissarro (pissarra segundo o Aurélio), sempre tirando ou abalando nossa paciência.
Já escutei frases do tipo – as quais não acho impossível de se tornarem ou serem verídicas: “Se está assim por cima, ‘avalie’ como está por baixo”; “Dinheiro jogado fora: se nem souberam cobrir, imagine o que vai haver de vazamentos embaixo”.
Pois é... Fiquei com dois lados nesse absurdo: a lembrança dolorida e a indignação de saber que a cidade em que nasci e assisto, não está tendo o tratamento que lhe é merecido.
A queloide normal – no corpo humano – não gera problemas funcionais, apenas estéticos; já a queloide provocada pela má conduta da administração pública gera tanto um como outro. Talvez tenhamos que chamar um cirurgião plástico para aconselhar a secretaria municipal responsável por essa vergonha ou um marceneiro para envernizar a cara de pau daqueles que dizem que isso “é um mal necessário”.
Sem mais para o momento, mas muito para daqui a pouco... Um abraço fraterno a todos!
Antonio Carlos Galvão Júnior