sábado, 11 de setembro de 2010

To trust or no to trust, eis a questão

Casos como o da Sargento Regina – que, diga-se de passagem, é longe de ser o único – põe em cheque uma atitude cristã de base: a confiança.

Há uma necessidade de aprimoramento do que somos; lapidar-nos; criar objetivos de mudanças positivas, surgidas do interesse reflexivo sobre o nosso modo de agir conosco e com aqueles que nos rodeiam.

Um dos modos que mais me incomoda é justamente a falta de confiança na sinceridade de palavras e atitudes dos outros...  Ou como ouvi em uma palestra recentemente: é terrível a sensação de estar sempre sendo enganado (ou algo parecido como isso).

Não é fácil a escolha de ter bons olhos para todos e para tudo; realmente não é. Mas é preciso.  Se todos pudessem e quisessem fazer isso, teríamos, talvez, uma outra realidade.

Dar um voto de confiança constantemente ajuda a dar exemplo e fortalecer essa postura de maneira pessoal.

O veneno, com o qual o interrelacionamento desconfiado nos alimenta, faz-nos piores, mais duros, menos amáveis... Em alguns casos, vicia.

Pena tenho daquele que se aproveita da sinceridade e desprendimento alheio para tirar proveito para si de maneira consciente. E pior: muitas vezes não está sozinho; une-se àqueles que dividem o prazer sórdido da enganação... Corja suja e perversa.

Talvez um psicólogo explicasse o que gera esse tipo de comportamento: revolta, revanche, vingança, nfelicidade, ganância, egoísmo, insensibilidade?  Quem sabe?

Tem de haver a esperança de mudança real; gradual, mas real.

Sem mais para o momento, mas muito para daqui a pouco, envio um abraço fraterno REAL a todos.


Antonio Carlos Galvão Júnior
Setembro/2010

MATINÊ CIRCENSE

Domingo, quinze horas. A última vez que procurei mudar de rotina, na qual há mais de vinte anos me via subjugado a ela, terminou me custando um preço - que não me onerou as minhas finanças, mas a minha consciência de trabalhador, acima de tudo. Pois, como todo homem do ofício eu teria que, no dia seguinte, justificar a falta ao expediente, justamente num dia em que era de suma importância para instituição na qual sou servidor e que a minha presença não era de suma, mas de uma importância generalizada do conjunto. Há vinte anos sempre fazendo a mesma coisa, terminei por esquecer o dia do aniversário da Patrícia.

Para elucidar melhor o que digo sobre a mudança de rotina é que, quando solteiro condicionei a minha vida inteira a reservar os dias de Domingo para o meu sagrado repouso das minhas “farras” de finais de semana. Tinha hora para sair, às sextas-feiras e, como bom católico, hora para retornar ao Domingo, de preferência pela manhã. Casado, porém, tenho procurado condicionar a mesma rotina de outrora que é ter o Domingo exclusivamente para o descanso, contudo nem sempre isso é possível. Visto que, quando se casa não mais se pode ter domínio sobre você mesmo naquilo que até parecia muito salutar para a vida.  Tudo porque você deixa de ser você mesmo. Você agora é você, mulher e filhos e estes são os que mais transgridem a rotina, revolucionam a vida de tudo e de todos. E adeus “apartamento azul”, adeus lugar sagrado para se meditar, conversar consigo mesmo. Não, nada disso existe mais... sem contar as investidas da mulher - eterna revolucionária nos destinos dos homens - que, com o seu jeito sutil, chega taciturna, como quem nada quer e de repente estar a dominar a situação. Não são raros os exemplos dessas investidas femininas. Remoto e presente são os exemplos de Eva, de Cleópatra, de Maria Bonita e de Marly, minha esposa. A mulher investe naquilo que é próprio de seu ethos e menos e distante do do nosso - homem que sempre se achou dono da situação -, mas que em nada vem a criar constrangimento ou desentendimento, porque se a faz, é pela justeza de seu amor  e pelo amor de todos.

Mas, afinal, e o matinê circense?

Sim, lá fui eu com mulher e filhos à matinê em pleno Domingo, à tarde. Não me lembro justamente o dia em que fui a um circo pela última vez, faz tanto tempo que hesito em dizer se fui mesmo ou se assisti pela tv. Em verdade, se fui ou não, o que tenho a dizer é que o tempo, no mundo circense, não mudou muita coisa não. Talvez para os nossos pequerruchos também estivessem a ocorrer o mesmo, ou seja, a sentir o que eu estava a sentir, mormente, para o mais novo que não desgruda da televisão e que está de saco cheio de ver e ouvir falar de “Beto Carreiro”, o dito circo que havia de se instalar justamente, aqui, na nossa terrinha.

E lá se deu, quinze horas e trinta minutos - meia hora após o previsto - tudo que eu já esperava e que os nossos filhos já sabiam de cor e salteado do que existe no mundo circense.  A dança do ventre, o equilibrista numa bicicleta com uma vara sobre um cabo de aço bem esticado, apresentação dos pobres e coitadinhos animais (os dálmatas, os chimpanzés, os cavalos), os eternos palhaços com seus risos congelados, os los Quênias, Cristal, a mulher que faz piruetas pendurada numa enorme cortina, e por fim, a apresentação do barulhento e ensurdecedor globo da morte.

Entretanto, a todo esse eterno espetáculo do viver circense, algo de insólito e de enigmático me apareceu - uma atração a parte. Eis que, assim que iniciou a primeira apresentação, surge entre as arquibancadas uma mulher morena, de cabelos e olhos pretos; baixinha, magra, um tipo de “Sônia Braga” de circo, com uma máquina fotográfica nas mãos a fotografar, com certa particularidade, as crianças. Com uma praticidade de “fotógrafo-repórter” ela procurava registrar a pessoa na sua intimidade. Ela fazia tudo isso com uma seriedade de pedra, não se via um sorriso sequer em sua face, pensei quanto ela carecia de um sorriso congelado de palhaço.

No final da última apresentação reapareceu a “Sônia Braga”, com a mesma carência de riso. Desta vez, voltava com uma lanterna e uns monóculos. Dirigia-se, justamente àquelas crianças que antes ela fotografara com a praticidade de “fotógrafo-repórter”. O monóculo era um chaveiro, um suvenir, com a foto da criança, como lembrança do circo no valor de cinco Reais. Não me lembro de ela ter nos fotografado com os nossos filhos - mágica circense? Só sei que ela foi à mãe dos meninos e entregou-lhe um monóculo, que ela (a mãe), também, não o quis comprar.

Apesar da seriedade da morena, sem dar sequer um sorriso, ela também não exprimia uma palavra. Chegava, entregava o monóculo e, se alguém comprava, ela recebia o dinheiro e saía taciturna, a executar a sua tarefa, tão melancólica, quanto o que está por trás dos risos congelados dos palhaços. Porém, estes, eram    profissionais da felicidade, em que o público dizia com todos os risos que valeria à pena transgredir as regras, tudo em nome das crianças.


M. C. Garcia  
Crônica inédita do livro CRÔNICAS DE UMA CRÔNICA VIDA, que foi lançado, na XXI Bienal Internacional do Livro de São Paulo, entre 12 e 21 de agosto de 2010).

Gullar, 80 anos !

 
   O maior poeta brasileiro em atividade, Ferreira Gullar completou 80 anos no último dia 10/09/2010

APRENDIZADO
Do mesmo modo que te abriste à alegria
           abre-te agora ao sofrimento
           que é fruto dela
           e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
           que da alegria foste
                                    ao fundo
           e te perdeste nela
                                    e te achaste
                                    nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
                                    e em tua carne vaporize
                                    toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.
                

De Barulhos (1980-1987)

11 de Setembro: Um dia sem guerra




O nono aniversário dos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos deveria ser um momento para refletir sobre a tolerância. Deveria ser um dia de paz. No entanto, o fervor antimulçumano que existe aqui, somado à contínua ocupação militar estadunidense do Iraque e à escalada da guerra no Afeganistão (e no Paquistão), tudo junto, alimenta a ideia de que, de fato, os Estados Unidos estão em guerra com o Islã.

O 11 de setembro de 2001 uniu o mundo contra o terrorismo. Todo o mundo, ao que parece, estava com os EUA, em solidariedade com as vítimas, com as famílias que perderam seres queridos. Esse dia será recordado pelas gerações futuras como o dia em que aconteceu o ato infame de assassinato massivo coordenado mais impactante do início do século XXI. Porém, esse não foi o primeiro 11 de setembro associado ao terror:

Em 11 de setembro de 1973, no Chile, o Presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, morre no marco de um golpe militar apoiado pela CIA, que marcou o começo de um regime de terror comandado pelo ditador Augusto Pinochet e durante o qual foram assassinados milhares de chilenos.

O 11 de setembro de 1977, na África do Sul, o líder contra o apartheid Stephen Biko foi golpeado dentro de uma camioneta da polícia. Morreu no dia seguinte.

O 11 de setembro de 1990, na Guatemala, a antropóloga guatemalteca Myrna Mack foi assassinada por militares que contavam com o apoio dos Estados Unidos.

De 9 a 13 de setembro de 1971, em Nova York, aconteceu um levante na prisão de Áttica, durante o qual a polícia do Estado de Nova York assassinou a trinta e nove prisioneiros e guardas e feriu a centenas.

O 11 de setembro de 1988, no Haiti, milícias de direita levam a cabo um ataque durante uma missa celebrada pelo Pe. Jean-Bertrand Aristide, na Paróquia de San Juan Bosco, de Porto Príncipe; na ocasião assassinam pelo menos 13 fiéis e ferem pelo menos a umas sessenta e sete pessoas. Mais tarde, Aristide seria eleito por duas vezes presidente e, por duas vezes, derrocado por golpes de Estado apoiados pelos Estados Unidos.

O 11 de setembro é um dia para recordar as vítimas do terror, a todas as vítimas do terror e para trabalhar pela paz, como faz o grupo "Famílias de 11 de Setembro por uma Manhã de Paz". Conformado por pessoas que perderam seres queridos no 11 de setembro de 2001, no ataque às Torres Gêmeas, sua missão poderia servir como um chamado nacional à ação. Em sua página web escrevem: "Transformar nossa dor em ações pela paz é nosso objetivo. Ao desenvolver e advogar por opções e ações não-violentas em nossa busca por justiça, esperamos romper os ciclos de violência engendrados pela guerra e pelo terrorismo. Reconhecendo nossa experiência comum com todas aquelas pessoas atingidas pela violência em todo o planeta, trabalhamos para criar um mundo mais seguro e com mais paz para as pessoas".

Amy Goodman
Democracy Now!



MISSA PARA GAYS !


Igreja no centro de Londres lança missa para homossexuais