A música é um hino ao coração. Ela entra dentro da nossa mente e nos transporta a recordações de momentos tão importantes que vivemos ou que pretendemos que aconteçam em nossa vida. E quando a letra bate com alguma época do nosso passado e até mesmo do nosso presente nos enche de emoções. Desce uma lágrima no canto do olho e uma saudade imensa de algo que nos fez bem. A gente fecha os olhos e vai direto a uma imaginação profunda. É assim que estou me sentindo agora. Meus dedos deslizam no teclado enquanto as melodias de algumas canções entram suavemente em meus ouvidos e me transportam há alguns anos atrás.
Lembro da minha mãe. Ela gostava de cantar em seus instantes de felicidade. Era uma pessoa tão boa e preocupada comigo. Tão carinhosa e tão amorosa. Ficava tão feliz quando eu lhe enviava cartas pelo correio contando que estava bem. Era um anjo em minha vida. Amava-me sem se importar com a reciprocidade da minha parte. O que importava era que tudo estivesse na santa paz em minha vida.
O dia em que fiquei sabendo da sua morte me tranquei-me dentro de mim. Senti-me incompleto, vazio... Ela gostava tanto de sorrir. Nunca tratou ninguém mal. Adorava meus amigos e alertava quando algumas companhias não me faziam bem. Puxava as minhas “orelhas” quando eu cometia meus errinhos diários. Falava, falava logo em seguida estava do meu lado me abraçando e dizendo que me amava. Não era uma pessoa letrada, mas tinha as letras da vida dentro do seu coração. Sabia perdoar, fazer o bem e nunca teve besteiras. As portas da nossa casa sempre estavam abertas para quem quisesse entrar sentar e conversar. Eu tinha o imenso prazer em levar meus colegas num final de semana para conhecê-la e tomarem um banho de praia. Que saudade Dona Marietta...
Envolvido nas melodias dessas canções que estou ouvindo enquanto escrevo agora também estou lembrando todos os detalhes do nosso convívio. Foram apenas 13 anos, mas o suficiente para eu ter certeza do seu amor por mim e pelos meus irmãos e sobrinhos. Pena que não tive a chance de lhe mostrar o meu filho. Queria que tivesse dado tempo. Assim como eu, ele também iria lhe amar com a mais pura transparência de um sentimento verdadeiro. Mas tenha certeza, o meu Huguinho sabe que a senhora existiu e que foi a melhor mãe do mundo.
Olha só a letra da música que estou ouvindo agora emocionado com fleches de recordações de todos os momentos da sua passagem em minha vida. Lembro da senhora com meu pai, cuidando da minha irmã quando adoeceu, preocupada com o meu irmão, feliz quando eu chegava de surpresa lá em São Miguel do Gostoso, chorando quando eu voltava aqui pra Natal, do medo que tinha de não me ver mais... E a última imagem: em cima da cama daquele hospital impaciente com suas dores e levantando-se do colchão quando a médica deu as costas, pois ela havia dito que a senhora não poderia porque as conseqüências seriam piores. Eu estava lá do seu lado e lhe fazia carinho nos cabelos, no rosto e lhe ajudei a sentar e depois a ficar de pé. O seu alivio foi imediato. A senhora tinha medo da morte. Eu me lembro bem. Mas Deus lhe levou. Eu fiquei triste. Sozinho e inconformado eu briguei muito com Ele, mas depois entendi que as pessoas boas Ele que do lado D’Ele. E com essa certeza estou vivendo até hoje.
A letra dessa música diz bem o que sinto.
João do Amor
Minha mãe, minha flor
Anjos de Resgate
Está faltando uma flor
No jardim do meu coração há um vazio em mim
Sei que foi Deus quem te colheu
E te levou pra enfeitar um jardim que existe no céu
Eu não consigo encontrar uma flor
Que me faça esquecer essa dor
Dentro de mim ainda posso sentir
O perfume que exalava de ti
Mãe eu preciso dizer amo você não vou te esquecer
Quando no céu te encontrar
Com lágrimas de amor
Eu vou te regar minha mãe minha flor
Sinto falta de cuidar de ti
Dos carinhos que deixei de fazer quanto tempo eu perdi