Sabe-se que o mundo no qual vivemos desde milhões e milhões de anos que as coisas não são as mesmas coisas de sempre. Percebe-se que há um dinamismo extraordinário em tudo que vemos, vivemos ou fazemos. Vejamos o processo dinâmico que é a própria vida. Eu era criança hoje não sou mais. Vejamos o processo dinâmico que é a nossa cidade, o nosso bairro, a nossa rua. Na minha época não havia água encanada nem luz elétrica e rua calçada, nem se pensar. Por exemplo, costumo dizer que nasci em Natal, no bairro de Igapó, porém, há quarenta e sete anos atrás, esse outro lado do Rio, como costumam dizer, pertencia a São Gonçalo do Amarante (percebam que não sou quão senil assim). A nossa querida Zona Norte, para mim, era o meu lugar de aventuras onde ia para mata (capoeira) tirar ubaia, mangaba, guabiraba rasteira ou guabiraba de pau, ingá, maracujá-mochila e outras coisas mais, tudo isso frutos nativos, que talvez, só nessa crônica a(o) gentil leitor(a) esteja tendo a oportunidade de saber que aqui também, um dia, já foi um verdadeiro éden. Éden este em que o meu avô e tantos outros moradores viviam da plantação de roçados onde colhiam feijão, milho, melancia, mandioca, quiabo, maxixe, macaxeira, pipino, para suas sobrevivências. Faziam farinhada e deliciosos beijus, tapiocas e bolo de mandioca. Quem há de imaginar que onde é hoje a CAERN, no Panatis II, já foi o campo de futebol mais famoso deste lado do rio, onde se deram as disputas mais acirradas entre times famosos daquela época como Igapó F. C. e América F. C. Que a fazenda de Sr. Agnaldo é onde hoje se encontram o Hipócrates e a FAL e que onde é hoje o Nordestão era a fazenda de Sr. Nelton Bacurau. O interessante em tudo isso é que os antigos moradores de Igapó e da Redinha ainda costumam dizer que estão indo para Natal, quando vão à feira do Alecrim ou ou à Cidade Alta. Não adiantou a ponte metálica de Igapó ser trocada pela de cimento, nem tampouco, a imponente ponte Newton Navarro ser construída e o povo continuará indo a Natal. Aí sim, para essa gente são realmente os fins dos tempos.
Na realidade, estamos nos fins dos tempos e o século XXI tem nos mostrado isso explicitamente de forma extraordinariamente bela, ainda para iniciar este século vimos no Brasil a aprovação da nossa Constituição quão esperada e foi a maior festa democrática que já vivemos até então; vimos a queda do muro de Berlim, o esfacelamento da União Soviética; vemos a ascensão da China mesclada de um capitalismo-socialista; vimos um operário na Europa ser eleito presidente da sua nação; vimos um Papa quebrar toda a lógica de rei ao sair pelo mundo em nome da paz levando tiro e perdoando o agressor; vimos um país da América do Sul eleger para presidência uma mulher; vimos no Brasil outro operário ser eleito presidente e depois ser reeleito, agora vemos, pela primeira vez, na história da humanidade, o USA eleger um americano que tem parte da família na África para comandar a nação mais rica do mundo, que também já foi o primeiro senador a ser eleito.
E para se consumar os fins dos tempos realmente, o Brasil terá que se tornar uma potência, pois tem condições para isso, diante a grande crise econômica que está a incomodar o império americano nortista, ou seja, em ter que eleger no próximo pleito para a presidência uma mulher e, aqui em Natal, quem sabe, um filósofo para a Câmara Municipal. Assim sendo, estaremos realmente nos fins dos tempos RUINS, dos tempos das TEMPESTADES para vivermos o começo dos tempos BONS, dos tempos da BONANÇA. Os tempos dos arranha-céus, do shopping center, dos espaços de cultura, das bibliotecas, das lan house, do anime, do cosplay, do saneamento básico, do trabalho para todos, da solidariedade entre cristãos e não-cristãos e, acima de tudo, da consciência política aqui, desse outro lado de Natal, a nossa verdadeira NOVA NATAL e não simplesmente Zona Norte com a conotação de município, como alguns ainda insistem para que não aconteça os fins dos tempos...
*M. C. Garcia é poeta e filósofo.