quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2009


A Igreja Católica no Brasil promove, mais uma vez, a Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2009 o tema versa sobre a “Fraternidade e a Segurança Pública”. A promoção da Campanha da Fraternidade, ultrapassados 40 anos desta prática, é uma promoção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, convocando as comunidades de fé e congregando, em mutirão e cooperação, diferentes segmentos da sociedade brasileira em torno de uma questão da mais alta importância para a vida de todos. A Igreja pretende, pois, com esta Campanha, debater sobre a segurança pública com a finalidade de contribuir, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, fonte inesgotável de valores e princípios, para que a sociedade avance no compromisso e na promoção da cultura da paz. Uma cultura da paz fundamentada e comprometida com a justiça social. A Igreja, pois, com sua ação evangelizadora, adentra em questões complexas que estão configurando as feições da sociedade brasileira contemporânea. Injustiças e violências estão grassando por todo lado na terra de Santa Cruz. A sociedade se torna cada vez mais um palco de inseguranças, gerando um sério comprometimento na convivência humana.


É preciso reverter este quadro. É uma aposta que não pode ser, absolutamente, descartada. Pelo contrário, é preciso enraizar as motivações e produzir lucidez gerando convicções para que um novo cenário seja desenhado como pano de fundo para a sociedade. Esta aposta numa reversão deste quadro complexo que se apresenta hoje não se conseguirá apenas com reformas paliativas, escondendo no seu bojo os interesses cartoriais de grupos e a desonestidade de tantos manipulando legislações, devorando os bens dos pobres e criando cercas para delimitar campos de defesas para as minorias privilegiadas. A revolução que o cenário violento e injusto posta na sociedade brasileira só poderá ter reversões substantivas na medida em que o ponto de partida for uma referência ética e moral. O Evangelho de Jesus Cristo é esta referência. Supõe sua escuta atenta e humilde.


A Campanha da Fraternidade, então, é promovida durante o tempo quaresmal para que o apelo à conversão, convite próprio e especial deste tempo, abra os ouvidos e o coração de todos para melhor enxergar os desafios múltiplos e complexos da realidade. Não basta apenas discorrer, analisar e explicar acerca da violência que amedronta na vida da sociedade. Nem também é qualificado lamentar a respeito de situações e acontecimentos. É preciso promover uma sensibilização produtora de gestos concretos e comprometimentos mais efetivos no coração e na vida das pessoas, levando-as a reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social. A consideração das configurações estruturais e conjunturais da violência não dispensa o confronto de cada pessoa com sua própria responsabilidade. Ora, o problema da violência e a promoção da cultura da paz dependem e exigem uma postura própria de cada pessoa.


Esta dimensão de comprometimento pessoal se desdobra na direção do compromisso de denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas. Este âmbito, é uma convicção social, é um lamaçal terrível. Assim como noutros âmbitos importantes, a Igreja propõe, pela força do Evangelho e de seu compromisso ético, fortalecer a ação educativa e evangelizadora para alavancar a promoção e a cultura da paz. Ora, é preciso crescer na conscientização acerca da negação de direitos como causa de violência. A superação da violência é, pois, uma tarefa prioritária na sociedade brasileira. Esta tarefa não será realizada e suas metas não serão alcançadas sem o comprometimento efetivo de todos os segmentos da sociedade brasileira. Bem assim, não se mantém num ritmo adequado às exigências e demandas faltando uma iluminação ética incidente e interpeladora.


Esta iluminação ética a Igreja Católica tem como oferta, depositária que é do mandato do seu Senhor para o anúncio do Evangelho. Se é verdade que a segurança pública é dever do Estado, também é direito e responsabilidade de todos. Todas as pessoas aspiram por segurança e estão preocupadas com o problema da falta de segurança pública manifestada na violência no trânsito, no tráfico de drogas, nos cárceres, no tráfico de armas e de pessoas, nas desigualdades sociais, na miséria e na fome, na corrupção. Ao promover a Campanha da Fraternidade 2009 a Igreja Católica se engaja e trabalha para convencer a sociedade inteira acerca da convicção de que a cultura da paz é o maior patrimônio de uma sociedade e que sua conquista não depende apenas e não se resume em discursos ou mesmo só em conjunto de propostas. Na verdade, é um investimento maciço numa mentalidade que determine e modifique o modo de pensar e agir das pessoas. Na verdade, é uma cultura. Este é o compromisso de uma Igreja perita em humanidade!

NOTÍCIAS DA ARQUIDIOCESE

A Arquidiocese de Natal se prepara para realizar a Campanha da Fraternidade 2009, que tem como tema "Fraternidade e Segurança Pública". O lema é uma citação bíblica, do livro do Profeta Isaías: "A paz é fruto da justiça" (Is 32,27). A preparação ocorre com encontros de capacitação dos agentes pastorais, nas paróquias.

Em nível nacional, a abertura da CF 2009 ocorrerá no dia 25 de fevereiro, às 9 horas, na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida-SP.

A missa será presidida pelo Arcebispo de Aparecida, Dom Raimundo Assis Damasceno, com transmissão da Rede Vida de Televisão. A homilia será feita pelo Secretário Geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa.

O lançamento da Campanha, na Arquidiocese de Natal, será feito no dia 27, às 8 horas, no Centro Pastoral Pio X - subsolo da Catedral Metropolitana, com um café para a imprensa, autoridades e padres. Na ocasião, será apresentado o material da Campanha, como cartaz e texto-base.

A coordenação da Campanha na Arquidiocese vem se reunindo para agendar outros eventos com a intenção de debater o tema da CF e mobilizar a sociedade, visando levá-la a assumir compromissos em relação à Segurança Pública. O primeiro evento será um Seminário sobre Segurança Pública, nos dias 3 e 4 de março. O objetivo é reunir os agentes pastorais, advogados, estudantes de direito e autoridades diretamente responsáveis pela Segurança Pública no Estado e no Município de Natal.

Outro momento forte de mobilização, em nível de Arquidiocese, será uma vigília pela Segurança Pública, no dia 5 de março. Neste dia, haverá uma concentração e celebração de missa, às 18 horas, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Esperança, na Cidade da Esperança. Depois da celebração, os participantes sairão em caminhada, pelas ruas do bairro, até a Basílica dos Mártires, no bairro de Nazaré, onde acontecerá uma vigília, rezando pela Segurança Pública, ouvindo depoimentos e testemunhos de pessoas, até às 22 horas.

Além desses eventos, já agendados, outros serão realizados, ao longo da Campanha. Ao mesmo tempo, nas paróquias do interior e da capital, os agentes pastorais que estudaram o texto-base da Campanha realizarão encontros, debates e seminários.


CALENDÁRIO DE ATIVIDADES / CF 2009

GRUPO LUZ DO MUNDO

MARÇO
DIA / ATIVIDADES

01 GRUPÃO – Apresentação do tema CF 2009
07 CF 2009 – Palestra: Apresentação do tema CF 2009 em nível paroquial (sábado) no Centro Pastoral São Marcos
08 CF 2009 – Reuniões nas casas
14 CF 2009 – Cinema na Comunidade (sábado)
15 CF 2009 – Reuniões nas casas
21 CF 2009 - Palestra alusiva ao tema da CF 2009 (sábado)
22 CF 2009 – Reuniões nas casas
28 CF 2009 – Cinema na Comunidade (sábado) – a sessão realizar-se-á no km 8
29 CF 2009 – “GESTO CONCRETO alusivo a CF 2009


P.S - A partir de sábado à noite faremos uma pequena apresentação sobre o tema da Campanha da Fraternidade em nível paroquial. Faremos uma peregrinação com o nosso pároco (Pe. Thiago) em todas as capelas de nossa paróquia.



Brasil - Carnaval, Quaresma e povo brasileiro


O carnaval do Brasil tem marca registrada. Nenhum outro país faz igual. Onde querem imitar, só conseguem arremedos sem ritmo e sem graça.

O carnaval se torna, assim, manifestação típica e profunda da identidade do povo brasileiro. As escolas de samba do Rio, o frevo de Recife, ou o carnaval da Bahia, não fazem só coreografias e movimentos que revelam a agilidade e o encanto físico das pessoas. Junto com a beleza do corpo, o carnaval revela a riqueza da alma brasileira.

Não se entende o carnaval brasileiro, sem levar em conta a peculiar composição étnica do povo brasileiro. Ela é fruto de um longo e complexo processo de integração racial, feito muitas vezes ao arrepio da ética, mas que resultou numa surpreendente realidade humana e cultural, que constitui, sem sombra de dúvida, a riqueza maior deste país.

Brasil tem um testemunho a dar ao mundo, de vivência harmônica da diversidade, de integração das raças e das culturas, e da fusão dos contrastes em novas expressões de vida.

No fórum das migrações, realizado na Espanha no ano passado, o sociólogo francês Samir Nair surpreendeu a todos, ao afirmar que nenhuma solução dada aos migrantes é adequada, a não ser que se realize a "solução brasileira".

Alguns países chegam a tolerar a diversidade racial, e a reconhecê-la. Mas permanece a separação. Ao passo que no Brasil se realizou uma profunda miscigenação racial, como nenhum outro país realizou. Esta seria a "solução brasileira", proposta pelo sociólogo francês.

Para entender o carnaval brasileiro, é preciso ter presente o longo itinerário de integração racial, que resultou no povo brasileiro que agora somos. A miscigenação fez parte da colonização portuguesa, iniciou com o componente indígena, se aprofundou com a participação africana, e continuou com a chegada dos migrantes, sobretudo europeus, mas também asiáticos.

A contribuição mais sutil, e mais difícil de mensurar, é a indígena. Ela foi simbolizada claramente num episódio, que ainda hoje espelha seu propósito e sua consistência. Em 1531 a coroa portuguesa resolveu povoar o Brasil. Enviou uma esquadra de cinco navios, comandada por Martin de Souza, trazendo 400 homens, e nenhuma mulher. A intenção era evidente. As mulheres seriam encontradas aqui, entre as indígenas.

Estava lançada a fórmula do povo brasileiro. A contribuição indígena não se limitou ao sangue que passou a circular nos mamelucos. Foi muito mais profunda e sutil. A casa passou a ter duas partes bem distintas. Na sala se falava português e se cultivava a consciência de pertença à coroa. Na cozinha se transmitiam os valores culturais indígenas, expressos não só nas comidas típicas destes trópicos, mas também nos sentimentos religiosos e na cosmovisão própria dos povos nativos.

Com a chegada posterior dos três milhões de escravos e escravas, o processo de miscigenação ficou mais explícito e mais evidente, com repercussões raciais e culturais mais duradouras e decisivas.

Este processo se acentuou com a chegada dos migrantes de outros países, sobretudo no final do século 19.

Pois bem, é no contexto desta complexa e diversificada composição ética que precisamos situar o carnaval, se queremos nos dar conta de sua consistência humana e cultural. O mundo se encanta com sua beleza exterior e sua manifestação episódica.

O grande desafio do povo brasileiro é não ficar só na exterioridade do carnaval. A experiência única de sua profunda miscigenação racial, se constitui em precioso testemunho de abertura, de tolerância, de convivência fraterna, de alegria de viver, que precisa se traduzir em justiça social e em respeito à dignidade da pessoa humana.

O povo brasileiro não pode limitar ao carnaval a afirmação de sua identidade. Ele precisa traduzi-la na efetiva realização da democracia econômica e social.

O carnaval, breve e fugaz, precisa ser complementado pela quaresma, longa e consistente, feita da busca de valores autênticos e perenes.

Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales, São Paulo.

CHARGES


A vida real é mesmo uma dureza !!