MISSÃO DE “POPULARIZAR” SÃO PAULO?
Na história da Igreja existirem grandes santos que não chegaram a ser “populares”, quer dizer, não entraram no imaginário coletivo dos cristãos com a magnitude que alguém pensaria. É o caso de São Paulo. Quando se fala do apóstolo “secamente”, se entende o apóstolo Paulo. Sua conversão, sua ação evangelizadora no extenso império romano, suas cartas que atravessaram os séculos, são testemunho claríssimo de sua indubitável grandeza. Desde há dois mil anos, as gerações cristãs alimentaram sua fé nos escritos do apóstolo, as grandes reformas da Igreja os tiveram como referências privilegiadas, igualmente o próprio magistério e a teologia.
Apesar de tudo isso, sua presença “popular” não foi muito grande, embora, em alguns casos, muito significativa. Basta ver a aventura paulina na história da Igreja.
São João Crisóstomo, já no século IV, chamava a atenção que muitos cristãos, não só não liam Paulo, como também nem sequer sabiam quantas cartas havia escrito.
Aspectos mais positivos, porém, apareceram na história. Em plena revolta protestante, e enquanto os reformadores fazem de Paulo uma bandeira de protesto contra a Igreja de Roma, Santo Antônio Maria Zacaria (1502-1541) funda os “Clérigos Regulares de São Paulo”, com a finalidade de imitar o apóstolo em sua missão evangelizadora, exigida pelos tempos, e impulsionar uma renovação da Igreja de seu tempo. Em 1696 e 1699, nascem em Chartres (França), duas congregações de “Filhas de São Paulo” que, com o patrocínio do apóstolo, se dedicavam a obras de caridade em escolas e hospitais. Sempre na França, nos encontramos com as “Damas de Saint-Paul”(1825), também dedicadas à educação cristã das jovens. E não faltou um “Instituto Cegas de São Paulo” (1852), formado por mulheres cegas e não-cegas, para ajudar as pessoas cegas, fazendo realidade as palavras de Paulo: “Agoras somos luz em Cristo”. São Vicente Pallotti (1795-1850), em seu tempo, foi capelão diretor de uma “Sociedade de São Paulo”, dedicada à instrução cristã dos soldados. Mais tarde, inspirado em São Paulo, dá vida à “Sociedade do Apostolado Católico”. Em 1896, encontramos na Alemanha, as “Irmãs de São Paulo”, uma congregação religiosa dedicada ao serviço dos enfermos e dos pobres.
Contudo, foi preciso esperar a metade do século XIX para que se comece a pensar no apóstolo Paulo em termos mais atualizados. A isso contribuiu sem dúvida, Mons. Wilhelm Ketteler, bispo de Manguncia (Alemanha), apóstolo da imprensa católica (1856, funda “Der Katholik”) e pioneiro da questão operária (1864). É sua a frase: “Se São Paulo vivesse hoje, seria jornalista”, tornando-se ela um símbolo e uma fonte de inspiração para os homens da imprensa católica.
Desde então, jornalistas, grupos e até fundadores começam a olhar Paulo como o comunicador ideal da mensagem evangélica, realizada com os meios e os métodos modernos de comunicação: em 1858, nos Estados Unidos, Pe. Issac Thomas Hecker, com os “Sacerdotes Missionários de São Paulo”; em 1873, na Suíça, Côn. Joseph Schorderet, com a “Obra de São Paulo; em 1875, na Itália, surge a “Sociedade de São Paulo”; em 1895, na China, surge o “Instituto Irmãos de São Paulo”; em 1903, no Líbano, aparecem os “Missionários de São Paulo”; no início de séc. XX, os Assuncionistas do Pe. D’Alzon (França) fundam o “Barco de São Paulo” para levar material impresso para a instrução cristã dos moradores das ilhas entre França e Inglaterra.
Um passo decisivo e bem atualizado acerca de São Paulo em nosso tempo, estava reservado a duas instituições que nascem quase ao mesmo tempo e com atividades bem parecidas: a “Sociedade de São Paulo” do Pe. Tiago Alberione, em 1914, e a “Companhia de São Paulo”, conhecida também como “Obra Cardeal Ferrari”, em 1921. A última composta em sua maioria por leigos. Já o Pe. Tiago Alberione (1884-1971), com o mérito de ter assumido São Paulo de forma integral, converte a “Sociedade de São Paulo” em uma verdadeira “Família Paulina”, formada por sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, com vários ramos, chamados a reproduzir uma determinada faceta do Apóstolo: Paulo - missionário com os meios de comunicação, homem de oração, fundador e animador de comunidades, promotor de vocações, incentivador da humanização das realidades temporais.
Como se pode ver, não são muitos os institutos titulados ao apóstolo São Paulo, porém constituíram-se, através do tempo, fundações e movimentos com traços cada vez mais especificamente “paulinos”, aos poucos aguçando a sua originalidade missionária: ir aos que estão longe, com todos os meios ao seu alcance para comunicar-lhes Cristo, o único Salvador.
Contudo, diante de tanta grandeza, fica a questão inicial: Conseguiram todos estes intentos “popularizar” a figura de São Paulo, fazê-la penetrar massivamente no povo cristão? Talvez ainda não.
O Ano Paulino, convocado pelo Papa Bento XVI, certamente tem a missão de “popularizar” mais o grande apóstolo Paulo. É a nossa grande esperança!
Dom Jacinto Bergmann - Bispo de Tubarão-SC