Todas as manhãs, no pequeno jardim de minha casa, temos a alegria de ficar olhando os passarinhos baixarem-se até o chão para apanhar
as migalhas de pão que atiramos para o sustento deles. Logo depois, em célere voo, vemo-los alçarem de novo aos ares, em gorjeios festivos de gratidão aos céus pelo alimento.
A festa do Natal, infelizmente muito comercializada nos tempos atuais, é um convite amável de Deus, para os que vivemos na terra, elevar o espírito aos céus para, imitando os pássaros, louvar e agradecer a Deus que veio ao nosso encontro na humildade da gruta de Belém. “Nasceu hoje para vós o Salvador” – anunciavam os anjos aos pastores em revoada festiva pelos céus.
Natal é pois convite para subir. Como os pássaros, que não se lançam em terra lamacenta, somos sempre chamados a alçar voo para perto de Deus. Por isto Jesus veio até nós. Isto é o Natal: o Filho eterno de Deus vestiu-se da natureza humana no seio virginal de Maria, fez-se igual a nós, menos no pecado. Natal é portanto a chegada do Salvador.
Mais ainda: o Evangelho de João (Jo 1, 4) nos ensina que o Verbo de Deus, que nasce como homem, é portador da vida e esta vida é “a luz dos homens”. Já Isaias (9, 1-2) nos havia profetizado que quem andava nas trevas, viu uma grande luz.
A alegria do Natal é que esta Criança, que nos abre os braços, veio dar-nos vida nova: “A todos que O receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12). Esta é a vida nova, a filiação divina.
Não temos o direito de nos iludir. Temos de reconhecer que, de maneira geral, o Natal perdeu muito do seu sentido, que é a chegada do Salvador da humanidade. Esta é a nossa grande alegria: Deus ter vindo ao nosso encontro para nos trazer nova vida, que é a graça, a filiação divina, os meios de santificação, a certeza da salvação.
A liturgia nesta solenidade tem hinos bonitos e inspirados. No ofício da noite a Igreja proclama, na beleza do latim, que “embora pequeno, deitado no presépio, em todo o universo, ò Cristo reinais. Ó fruto bendito da Virgem sem mancha, que todos vos amem num reino de paz”. Este é o Natal que desejamos aos nossos eventuais leitores.
*Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.
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