terça-feira, 30 de março de 2010

Fecho os olhos



Ontem faleceu um famoso jornalista  brasileiro (Armando Nogueira) e foi a notícia mais alardeada em todos os meios de comunicação. A primeira vez que o vi foi nos programas esportivos da TV BANDEIRANTES junto com Luciano do Vale nas mesas redondas de futebol. Ignorantemente pensava eu que aquele senhor culto, profundo conhecedor da bola fosse apenas um bom jornalista e comentarista esportivo. A morte é a redenção! Hoje descubro que o homem é a uma sumidade, está entre os maiores jornalistas que este país  já teve e responsável pelas poucas coisas boas que vemos atualmente na tevê. 

Alimento o coro da mídia para transcrever frase por ele dita que introduz a minha fala: "O rádio ensina o homem a fechar os olhos pra ver melhor".

Sou fascinado pelo rádio! Não tenho dúvida: Do meu pai herdarei os valores do trabalho, da honestidade, do interesse pelas coisas perenes da vida e a paixão pelo RÁDIO. Não só porque meu pai é um  raro consertador de rádio, ofício que o ajudou  a manter a família, custear os meus estudos e também da minha irmã, mas, sobretudo, porque ele gosta e ouve rádio. Cresci e envelheço vendo o meu pai ouvir e consertar  rádio. 

Desta herança advém o meu vício pelo rádio: Acordo ouvindo rádio; Almoço ouvindo rádio; Tomo banho  ouvindo rádio; Dirijo ouvindo rádio; Estou na internet ouvindo rádio. Vou pra cama fazendo dele o meu travesseiro e aquela voz! Me faz dormir...

O rádio satisfaz a minha sanha por informação, me proporciona ouvir as melhores cabeças deste país e também as maiores aberrações. No rádio há a explosão dos detalhes, o imediatismo que nos transporta ao fato, a sofisticação do jornalismo que se resume a idéia materializada através da voz que não é maculada pelo preconceito do belo. Tudo bem, a bela voz também tem o seu fascínio, mas  tem relevãncia  para o público, vamos dizer, menos exigente de contéudo.

Não poderia também deixar de falar que no rádio a emoção do futebol é algo inigualável ! Falarão as vozes tacanhas: "No rádio se exagera demais, a bola se quer chegou na linha de fundo e o narrador já fala que a jogada é perigosa!"   Oh ! Homens caretas! Não compreendem que a vida sem sal não tem a mesma graça.

Bem, acho também que o rádio é responsável pela minha loucura em não querer ouvir a voz da consciência. Ele também é a minha fuga da solidão; do meu medo em colocar a cabeça no travesseiro, pois não há coisa mais torturante do que travesseiro a lhe condenar pelos seus pecados do dia...Calma ai ! Ouço no rádio, agora, no programa do famoso terapeuta:  "Não são os outros ou outras coisas que nos causam a infelicidade. Somos nós mesmos, sim, você é quem produz esta dor emocional". Concordo! O rádio se defende da minha covardia e a ele peço desculpas, reitero a minha paixão  e assumo a minha doença. 

Procurarei um terapeuta !


Luiz Teixeira.

Um comentário:

Antonio disse...

Saudações a todos!

Compartilho da mesma sensação de não ter dado o devido valor a Armando Nogueira enquanto vivo.
Também o vi nas rodas de discussão após as rodadas de futebol, sempre com opiniões coerentes - mesmo que, às vezes, contrárias à unanimidade da mesa (talvez até em respeito ao ao saudoso tricolor Nélson Rodrigues autor da máxima “Toda unanimidade é burra”).
Para não dizer que nunca li nada de Armando Nogueira, chegou uma vez a mim uma frase que hoje foi repetida no noticiário de esporte da rede Globo, para alguns em tom blasfêmico (mas nem tanto): “A tabela de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus”.
Não vou aqui aforar-me em uma análise literária, mas fica claro o bom gosto imagético dessa citação e o envolvimento do autor com o tema.

Parabéns Luiz pelas palavras. Confesso que sou mais televisivo que radiofônico; todavia reconheço o valor deste último, pois, historicamente, é mais democrático que o primeiro.

Um abraço,

Antonio.