Nunca viu o Auto da Compadecida? O chefe cangaceiro entrou no céu a despeito de matar quase toda a cidade, ele era louco mas só Deus sabia.
Para ser pecado deve haver pleno consentimento. Sendo assim, pessoas que cometem ilícitos por grave compulsão alheia a sua vontade não tem culpa, portanto não tem pecado.
Isso difere da negligência. Pessoas podem cometer ilícitos por negligência, mas a culpa recai na negligência. Alguém que sabe ter um sério distúrbio e que não se trata - podendo o fazer, e tendo consciência de que pode o fazer - torna-se culpada. Da mesma maneira um motorista é culpado por dirigir embriagado. Ninguém em sã consciência deseja causar um acidente embriagado, mas ao dirigir bêbado assume-se este risco, se se conhece o risco. Em hipótese, alguém que assume um risco que não conhece e provoca o mal não peca. Por exemplo, alguém que liga inadvertidamente uma chave elétrica e eletrocuta alguém, mas sem a menor noção que era um contato elétrico. Cabe perguntar: "Estava conhecedor dos efeitos?". Se não, não é pecado.
Eis a diferença teológica entre o doloso e culposo. Todo pecado é doloso por definição.
Eis a diferença teológica entre o doloso e culposo. Todo pecado é doloso por definição.
Assim se aplica aos pecados contra a castidade feito por efeito de álcool - também matéria grave. Ainda que o álcool reduza a capacidade de julgamento, embriagar-se em situação perigosa para a virtude é praticamente permitir o pecado. Antes do primeiro gole havia pleno consentimento na possibilidade que isto ocorresse. E convenhamos: nem álcool, nem nenhuma droga tira totalmente o livre-arbítrio. Exceção feita se você ganha um boa-noite cinderela e é violentada dormindo ou narcotizada. Neste caso, não havia vontade de nada ilícito, nem vontade de ter um facilitador comportamental de ilícitos.
A regra é: "Acordado em sã consciência, você faria?". Se sim é pecado. Se não, não. Exemplo: Anestesias. As vezes voltamos muito esquisitos da anestesia. Imagine alguém vontando da sala cirúrgica e não dizendo ainda coisa com coisa começa a balançar o dito para as enfermeiras de sua maca. Risível em alguém semi-anestesiado, depravado em uma pessoa em sã consciência. A regra da ausência de consciência plena mitiga e até anula arroubos noturnos causados por sonhos mais picantes - que acontecem naturalmente sem culpa própria (supondo uma pessoa que não os alimentou com pornografia ou pensamentos sujos). Mas isto é controverso. Já me jogaram a pecha de laxista na cara, a despeito do catecismo comentar a mesma coisa em linguagem desidratada.
A indução ao pecado recai na mesma regra. Alguém plenamente desconhecedor dos códigos morais não peca por induzir alguém ao pecado. Por analogia, excusa-se aqueles que não são católicos mas nunca tiveram o mínimo contato para conhecer a fé. Este tema é extenso demais.
Ao contrário, pode-se argumentar na "Lei Natural", todos conhecem códigos mínimos da Lei Natural, e extrair a culpa pela violação delal. Exemplo básico de Lei Natural? Homem com mulher, masculino se une ao feminino. Que não me venham dizendo que isso não está impresso no mais básico do ser humano, ou dos animais, ou mesmo dos vegetais? Há uma resistência da Lei Natural ao comportamente homossexual.
Observe que as hipóteses "puras" de não-pecado e pecado não existem na vida real. Sempre estamos em condições cinzas, entre a falta de culpa e a culpa total. Como pecado sempre é intenção e consciência, apenas Deus tem autoridade para julgar os pecados, porque vê plenamente os efeitos que culminaram na falta. Os homens podem - com sua justiça humana - apenas buscar uma reparação provisória. A nós cabe um santo "egoísmo" de só cuidarmos de nossas intenções e nossos pecados. E os pecados dos outros? Quem não tiver pecados, que atire a primeira pedra!.
Ao final, respondi e não respondi sua pergunta. Um psicopata "puro", totalmente descontrolado, não peca. Mas quem pode entrar em sua mente para julgar que em momento algum ele não se deu conta de sau doença ou não pôde resistir à compulsão? E não nos deixeis cair em tentação... Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, os pecadores!
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