Embora a beatificação de João Paulo II tenha repercutido especialmente entre os católicos, a sua figura e atuação ultrapassam o âmbito da Igreja Católica, sendo reconhecido entre os grandes construtores do século XX. Muitos gestos de João Paulo II têm permanecido na memória e nos corações, assim como, nas páginas da história recente da Igreja e da humanidade. O testemunho do Papa peregrino da esperança e da paz continua a servir de exemplo e de estímulo para cristãos e pessoas de boa vontade.
O Papa peregrino nos recordou que é preciso caminhar ao encontro do outro, nas diversas situações sociais e nos diferentes contextos culturais, reverenciando o solo em que se pisa, abrindo os braços para acolher fraternalmente e estendendo as mãos para abençoar. Em tempos de domínio do mercado globalizado, ele insistiu na primazia do homem e do trabalho, alertou para a urgência da globalização da solidariedade, fazendo-se porta voz de povos sofridos, de vítimas esquecidas de conflitos armados, da miséria e da fome. Cruzou inúmeras fronteiras mostrando que é possível derrubar os muros do ódio, da intolerância e dos extremismos ideológicos para construir o sonho de uma humanidade reconciliada, de uma só família edificada sobre o amor, a justiça e a paz. Como verdadeiro romeiro, o beato João Paulo II percorreu itinerários difíceis, sustentado pela fé, não medindo sacrifícios para cumprir fielmente a sua missão até o fim. Em meio às graves e constantes violações da vida, proclamou corajosamente a dignidade inviolável da pessoa humana em qualquer situação ou fase de desenvolvimento em que se encontrar, testemunhando com a própria vida que menos condições de saúde não implicam em menos valor. O seu comovente gesto de expor ao mundo a sua fragilidade física, resultante da longa enfermidade, revelou o vigor espiritual de quem crê em Deus e por isso, jamais desanima, se acomoda ou se desespera, encontrando nele a força e a esperança diante dos desafios.
O Papa peregrino nos ensinou a fazer da vida uma constante romaria rumo ao novo céu e à nova terra. Num mundo marcado pela fruição desenfreada do instante e pelo prazer consumista, recordou com insistência o destino transcendente do homem, criado à imagem e semelhança de Deus e redimido por Cristo. Em meio a tantas situações de violência, ódio e vingança, tendo sido ele mesmo vítima da violência, no atento sofrido na praça de São Pedro, soube testemunhar o perdão revivendo o gesto misericordioso de Cristo na cruz. O Papa peregrino da paz promoveu a reconciliação e a paz entre os povos, estabelecendo o diálogo e a oração em comum com representantes de outras denominações cristãs e de outras religiões, ensinando a unir as mãos em prece e a estender as mãos a todos. Em meio ao relativismo ético e ao descrédito pós-moderno da razão, afirmou a validade permanente dos valores éticos e evangélicos e defendeu a verdade sobre o homem revelada em Cristo. Iniciou o seu pontificado convidando a não ter medo e a abrir as portas para Cristo, sendo agraciado pela abertura da porta santa do Jubileu do ano 2000. É justamente no âmbito da fé e da experiência da graça de Deus que se encontra a razão mais profunda dos gestos que fizeram dele o Papa peregrino da esperança e da paz. “Beato”, “bem-aventurado”, “feliz”, é João Paulo II. “Beato”, “feliz”, é quem se faz romeiro no dia a dia da vida, sendo portador de paz e de esperança, com a fé em Cristo no coração, com o olhar para o céu e os pés firmes no chão da história.
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