quinta-feira, 14 de julho de 2011


 "Só existe amigo porque há amiga e só existe amiga porque há amigo, por isso, o meu melhor amigo é minha amiga que me tem como amigo."


Há muito busco encontrar um amigo de verdade, e decorrido mais de quarenta anos de vida desvendo que só consegui encontrar amiga. Verdadeiras amigas. Amigo, porém, sempre me deixaram em dívidas suas ações.

Se amigo já era uma coisa rara, agora, é que parece cada vez impossível. Costumo dizer que na vida o máximo que se pode ter é co-léguas e olha lá!

Orgulho-me de ouvir meu pai dizer que teve (não tem mais) muitos amigos que outrora os escolhia para ser padrinho de seus filhos. Muitos compadres meu pai conquistou. Compadres pobres, compadres ricos, compadres vizinhos, compadres amigos. Quão bela época fora essa que mesmo não tendo vivido sinto admiração e até saudades. Pode!?

Não falo do amigo pai, do amigo irmão, do amigo filho, do amigo próximo. Falo do amigo sem nenhum laço de família. Daquele amigo do acaso que surge faz o bem e de repente desaparece misteriosamente e deixa aquela saudade profunda com uma sensação de que não se consegue discernir se foi sonho ou realidade. Aí, é que é amigo! Não exigi nada em troca.

Acredito no amigo que partiu; no amigo distante que, de quando em vez, se recebe uma carta repleta de surpresa falando da sua saudade e do seu sucesso. Infelizmente, hoje, sequer escreve mais cartas. Hoje, quase tudo se resolve através de um telefonema; escreve-se e-mail; conversa-se pela Internet. Tudo agora é virtual e até mesmo os próprios amigos. Talvez, uma forma concreta para se conquistar um amigo diferentemente daquela outra época.

O amigo próximo é quase sempre um problema ou um solucionador de problema. Afinal, amigo é para isso? Há aquele que passa a vida inteira se lastimando no intento de sensibilizar o amigo para salvar-lhe da desgraça. Há aquele que vive de aparência possuindo o que não pode e quando acha que pode, conta com um grande amigo apenas para dá solução a seus problemas contraídos, geralmente, com irresponsabilidade. Há o amigo desempregado que não se cansa de narrar a sua desgraça como se ele fosse o único a ficar desempregado aos quarenta e cinco anos de idade.

Busco o amigo que diz siga meu exemplo: não contraia dívida apenas pelo afã do ter isso ou aquilo, simplesmente, porque o ditador de regras lhe incutiu na cabeça que possuísse algo além daquilo que não se pode ter, negando-se do que se pode ser com poder. O amigo que diz: ajude o estranho mostrando-lhe o caminho de nunca cair em desgraça. Ensine-o a não contrair dívidas, mostre-lhe viver as coisas reais de que se pode viver sem cartão de créditos, sem cheque especial, sem carro principalmente do ano, sem roupa da moda, sem perfume francês, sem apartamento na zona sul, sem casa na beira da praia, sem ir a shopping center...

O amigo não é o que lhe tira do sufoco, mas o que lhe orienta como sequer entrar nele. O amigo é o que aparece do nada e não pede nada em troca; não é o que está sempre presente sabendo que pode livrá-lo da desgraça é o que age misteriosamente sem que se saiba para não acostumá-lo de estar sempre por perto.

Só existe amigo porque há amiga e só existe amiga porque há amigo, por isso, o meu melhor amigo é minha amiga que me tem como amigo. Acredito que amigo existe apenas nessa condição. Porém não acredito ter amigo, mas que poucos podem dizer que tem amigo, pois minha amizade limita-se às mulheres que revelam geralmente seus segredos para mim e não me pedem nada em troca, ao contrário, me doam até o que já possuo em excesso e me contenho apenas com as suas amizades.


M. C. GARCIA - poeta e filósofo -e-mail: garciamc2001@hotmail.com
 

Um comentário:

Emecê Garcia disse...

Olá, Antonio Carlos!

Sei que também és um poeta, pois pelas tuas palavras podes te revelar, como agora o fazes belamente. Agradeço aos comentários que tens feito.

Abraços amigo!

M. C. Garcia