quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Caros amigos e irmãos :
Durante esta semana, nunca se falou tanto em nosso grupo sobre o filme do Mel Gibson (A Paixão de Cristo), em virtude de sua utilização em uma atividade pastoral e mesmo neste blog (foto do Cristo violentado).
Obra cinematográfica muito polêmica sempre foi alvo de muita idolatria, principalmente pela mídia católica e pentecostal. Em busca de uma reflexão democrática, aberta, onde o cristão se permite ver vários ângulos de um tema e, desta maneira, amadurecer a sua fé e caminhada, é que transcrevo o texto do Leonardo Boff e logo abaixo um link com uma crônica de Arnaldo Jabor. Viva o saber !!

A Paixão de Cristo
O filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, não é a Paixão de Cristo. É a Paixão de Mel Gibson pelo sangue, pelo chicote, pela tortura e pela cruz a propósito da crucificação de Jesus. A forma escolhida de dramatização pouco tem a ver com os relatos evangélicos da Paixão, mas muito com o espetáculo e o simulacro, tão a gosto da cultura de comunicação de massa. O filme é tão excessivo e atordoador que o efeito final é: ''Isso não pode ser, é simplesmente demais''.

A questão nem é a seqüência ininterrupta de violência, mas a capacidade de Jesus de suportar aquilo tudo sem morrer pelo menos algumas vezes. Todo sofrimento possui uma inarredável dignidade mas quando é artificialmente provocado fica grotesco e revoltante. É dor pela dor, é sangue pelo sangue, é cruz pela cruz. Numa palavra, é dolorismo e sadismo. Isso não é nem humano nem divino. Recusamo-nos a crer num Deus que queira tal preço para redimir a humanidade. Mas ele não é o Deus de Jesus, é o Deus de Mel Gibson. Ele não se faz merecedor de respeito e adoração.

Aqui está o calcanhar de Aquiles de seu filme: a imagem de Deus, cruel e sanguinário.A obsessão pela dor e pelo sangue contamina todos os personagens e o próprio Cristo. Em nenhum momento se desgruda da cruz. Não é Simão Cireneu que ajuda a Jesus a carregar a cruz, é Jesus que ajuda a Simão Cireneu. O auge da obsessão é atingido quando Jesus se arrasta sozinho para a cruz para nela ser pregado. Os dois tombos da cruz com ele já pregado são inverossímeis e de uma crueldade insuportável.

Tudo o que é sadio pode ficar doente. Aqui nos confrontamos com uma versão doentia da Paixão de Cristo, longe da versão contida e digna dos quatro evangelistas. Falam sim que foi esbofeteado, zombado, desnudado, flagelado e coroado de espinhos. Mas nada de excessivamente cruel e sem piedade como em Mel Gibson. Os quatro evangelistas com extrema objetividade atestam: ''Depois de se terem divertido e de escarnecerem-no, conduziram-no parafora a fim de o crucificarem''.

O filme se filia a uma das várias interpretações da Paixão de Cristo, a do sacrifício cruento, prevalecente na liturgia das Igrejas e elaborada depois teologicamente por Santo Anselmo (+1109). Em seu famoso livro Por que Deus se fez homem, afirma: se fez homem para poder sofrer e derramar seu sangue e assim expiar a ofensa feita pela humanidade a Deus. Sinistramente diz que Deus até encontra bela a morte de cruz porque assim aplaca sua fome de justiça. Esta visão gibsoniana é errônea pois destrói a imagem que Jesus nos legou de Deus, como Pai de infinita ternura. O Pai não quis a morte de Jesus. Quis sim sua fidelidade até o fim, mesmo que implicasse a morte. Só é digna a cruz e a morte, conseqüência da luta contra a cruz e a morte impostas às pessoas e quando expressam solidariedade com os crucificados.

Seguramente muitos quererão aprofundar as questões suscitadas pelo filme de Mel Gibson. Recomendo meu próprio livro Paixão de Cristo - paixão do mundo: os fatos, as interpretações e o significado ontem e hoje (Vozes). Ele não deve ser ruim pois ganhou nos EUA, uma vez traduzido, o prêmio do livro religioso do ano (1978) e a Congregação da Doutrina da Fé, a ex-Inquisição, o analisou e me obrigou a um longo processo de explicação. Importa não isolar a Paixão de Jesus de sua vida e de seu compromisso. É aí que ganha sentido e em comunhão com a Paixão dolorosa do mundo
Leonardo Boff (Jornal do Brasil de 09/04/2004)



3 comentários:

Anônimo disse...

amigo que escreveu esta pequena dissertaçao,, só digo uma pequena coisa a vc, que nem todos pensam que nem vc... ninguem nesse mundo sabe o real sofrimento de jesus.. poderia ter sido pior do que o filme ou nao. creio q este tipo de dissertaçao propria nao cabe neste blog. se kda uma falasse da sua opiniao nesse blogo sobre as postagens que coloca lançando outr postagem, este blog se tornaria muito, muito, monotono...

Unknown disse...

Eu faço um apelo aos postadores: por favor, ao postarem matéria, se identifiquem. Pois isso é legal para que possamos os nosso comentários a quem os postou.
Quanto a dissertação, eu discordo do autor. Acho que o filme foi cruel sim, mas ainda acredito que Jesus tena sofrido muito mais. A nossa vida sempre foi muito cara e pagar por ela foi um preço muito alto. Os nossos pecados, cada dia são pores e por isso pagar por eles, custou muito.
Não sou tão fã do Mel Gibson. Mas acho que o seu filme mostrou apenas um pouco do sofrimento absurdo pelo qual o nosso Senhor Jesus passou. Nada foi exagerado, apenas, as pessoas ficam tristes e decepcionadas com a realidade dos fatos. E eu acho isso negativo.
E ainda se referindo ao autor da dissertação: alguém prestou atenção no último parágrafo do texto dele? Ele, simplesmente, indica o livro dele dizendo que é muito bom, pois na época do lançamento ganhou vários prêmios. Puxa, o cara teve a intenção de pegar a carona no filme e ficar mais rico. Me poupe.
Entendam uma coisa. Não estou debochando da pessoa que postou a matéria, e sim, do cara que escreveu a matéria.
Acredito que Jesus tenha sofrido milhões de vezes mais do que mostrou o filme: Paixão de Cristo.
O ser humano, cara, é muito ruim.
Deixe eu contar só um fato: ontem no meu trabalho um cara chegou num carrão com três loiras. Entrou na conveniência e comentou comentou comigo e o segurança: estão vendo essas meninas? Vou levar a galega mais bonita pra cama. Vou morder tanto ela, mas morder de verdade que ela vai sair toda inchada. Ela nem imagina o que vou fazer com ela. Quando ele foi embora o segurança me disse: esse cara é conhecido aqui em Natal. Ele leva as menina pra transar, grava tudo. Tem filmes com ele sufocando muitas na hora das transas.
Desculpe o comentário extra. Só tive a intenção de relacionar a violência do ser humano. Jesus veio ao mundo e morreu por nós. Vocês acham que o sofrimeto D'Ele foi bem inferior ao texto bíblico?

Anônimo disse...

Leonardo Boff, Mel Gibson, Arnaldo Jabor... com todo o respeito a suas obras artísticas e literárias, mas todos eles não passam de meros homens, como todos nós, que nunca passaram pela vida(e provavelmente nem passarão)por uma crucificação... podem tecer criticas entre si sobre o que sofreu ou não Jesus, mas uma coisa é certa: todos são completamente incapazes de dimensionar o sofrimento de Jesus.
Primeiro porque jamais foram crucificados. Segundo,e principalmente, jamais o foram ou o seriam inocentemente, como Jesus. A Inocencia de Jesus talvez tenha sido a maior razão do seu sofrimento. Muito mais jorrou de sua inocência pelo mundo do que poderia dimenssionar seu sangue.
Foi morto com a inocência de uma criança.
Talvez a banalização de crianças que morrem, todos os dias, neste mundo de guerra não seja mais suficiente para tocar os corações, talvez seja necessário mostrar-se rios de sangue para sensibilizar o mundo de hoje, talvez se o filme tivesse uma abordagem mais leve teria sido mais um entre os milhares de filme "Paixão de Cristo" que passam nas televisões em todas as Semanas Santas e Natal.
Talvez o problema não esteja no excesso sangue que corre no filme, mas nos nossos olhos...
Olhos que já não se incomodam mais com o sangue dos inocentes que jorram todos os dias em cada canto do mundo, as vezes até do nosso lado...