Vai muito além de uma coincidência trivial que os candidatos que lideram as
pesquisas eleitorais em Natal para a Prefeitura, Micarla de Souza, e para a
Câmara de Vereadores, Paulo Wagner, sejam oriundos dos meios de comunicação
e da mesma rede de televisão. Aliás, a mesma trajetória seguida pelo
candidato a prefeito de Parnamirim Gilson Moura, que também tem chances
reais de assumir a prefeitura.
Parte da origem dessa escola de candidatos neo-populistas, que tem na mídia
eletrônica o seu palanque e a sua principal força, está lá atrás, por volta
da década de 70 – e também não por acaso - na antiga Rádio Cabugi, de
Aluízio Alves, matriz de todo o reciclado populismo potiguar hoje em ação.
A Rádio Cabugi elegeu, naquela década, o radialista esportivo Souza Silva,
cujo programa eleitoral e palavra de ordem se resumia ao bordão: "Alô Deus,
a frasqueira te agradece, senhor". A morte interrompeu a original carreira
política do vereador. Com bordão tão "criativo" talvez tivesse chegado a
governador e ao Congresso Nacional.
Por aquela época, Carlos Alberto de Souza, misto de cantor brega e animador
de auditório, também começava a sua meteórica carreira política na mesma
rádio, que o levaria de vereador a senador e a passar por quase todos os
partidos disponíveis no país, até conseguir o seu canal de televisão pelos
bons serviços prestados ao último governo da ditadura militar.
Mas se começou no rádio, a horda neo-populista prosperou mesmo foi na
televisão. Principalmente na Tv de Carlos Alberto. Vieram, então, Osvaldo
Garcia, Luiz Almir, Jota Gomes, Aquino Neto, Salatiel de Souza, Paulo
Wagner, Gilson Moura e Micarla de Souza. Todos, incultos e despreparados.
Alguns, vulgares e grosseiros. Construíram suas carreiras numa TV popular,
oferecendo aos mais necessitados e abandonados por Deus e pelo poder
público, a ilusão de que os estavam defendendo em seus programas, quando na
verdade cuidavam tão somente de suas eleições e boas vidas.
As origens humildes, à exceção de Micarla de Souza, foram logo esquecidas.
Implantaram dentes vistosos, adotaram roupas e sapatos de marca e encheram a
cara de botox. Passaram a desfilar em vistosos carrões com tração nas quatro
rodas, para terem a certeza de que não ficarão atolados nas ruas onde
angariam seus votos. Aliaram ao papel de "fiscais" e "cobradores" de medidas
e políticas governamentais para a população, a demagogia e o
assistencialismo mais desbragado, na maioria das vezes via fundações de
fachada. Usam seus programas de televisão com a mesma competência de certos
pastores evangélicos, sempre prometendo mundos e fundos.
Não lhes podemos negar, contudo, competência. Seria brigar com o óbvio e
esquecer os repetidos mandatos que eles têm recebido do povo. Sejamos justos
e imparciais em nosso julgamento: eles sabem enganar. Por isso, foram tão
longe. Mas não estão ainda satisfeitos. E pela segunda eleição consecutiva e
sem que Deus tenha pena de nós, chegam às portas da prefeitura.
Por isso, sinto em dizer, mas as perspectivas não são nada otimistas. Estou
cada vez mais convencido e conformado de que a cidade cairá na mão de um
desses aventureiros da mídia eletrônica. É questão de tempo. E talvez a
cidade tenha mesmo de passar por isso. A idéia é tétrica, mas real e devemos
nos acostumar com ela. Tenho esperanças, todavia, de que Natal sobreviverá.
E quem sabe a dura lição não nos livrará durante muito tempo de cair
novamente em outro conto do vigário eleitoral.
Tácito Costa - Jornalista
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
A AMEAÇA NEO-POPULISTA
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