terça-feira, 27 de janeiro de 2009

LITURGIA


AMÉM


Amém é uma palavra de origem hebraica que passou para o uso dos cristãos em suas preces. Sua tradução mais comum na língua portuguesa é: assim seja.


Entre os inúmeros “Améns” encontrados na Liturgia, há um muito especial na Celebração Eucarística: a solene aclamação que encerra a Oração Eucarística. É sobre esse que queremos fazer algumas considerações. No passado recente não era incomum a assembléia rezar junto, e muitas vezes a convite do celebrante toda doxologia[1], resultando numa aclamação acanhada, sem entusiasmo algum. Hoje, graças a Deus, ao conhecimento mais profundo do Concílio Vaticano II e ao crescente interesse dos padres e fiéis pela Sagrada Liturgia, quase sempre a assembléia tem cantado só o Amém. Uns poucos insistem em cantar ou rezar toda a doxologia.


Teçamos algumas considerações.


A Oração Eucarística é uma narrativa orante e orante narrativa que faz memória, repleta de agradecimento, das intervenções do Pai na nossa História, por Cristo no Espírito Santo. A história da Aliança é apresentada e se perpetua com o “Amém” de toda assembléia que sobe ao Pai por meio de Cristo (2 Cor 1,20). Na oração eucarística o celebrante recorda com profundo agradecimento ao Pai que em Jesus Cristo se atualiza por meio do Espírito Santo: a salvação. Temos o coração agradecido ao recordarmos as maravilhas que Deus fez por nós. A conseqüência é que da gratidão vamos ao louvor, à adoração, à ousadia de pedir atualização de benefícios.


Vejamos como alguns Santos Padres da Igreja se referiam a esse “Amém”.


Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo povo exclama, dizendo:”Amém”. (S. Justino; Apologia I, 67, tradução Paulus).


S. Jerônimo recordava-se, lá em Belém, que o Amém nas basílicas romanas, brilhava como relâmpago (Cf. PL 26, 355).


Santo Agostinho poderia ser chamado o teólogo do Amém, a palavra, segundo ele, mais importante da Missa. No seu Sermão 211 afirma que no céu daremos continuidade às grandes aclamações litúrgicas: “cantaremos Amém e Aleluia”. Para ele o Amém que encerra a Prece Eucarística é como uma assinatura que se apõe, por exemplo, a um testamento: “vosso Amém é vossa assinatura” (Sermão, 48; 272, etc). Em sua diocese de Hipona, tal era a convicção dos fiéis que as colunas do templo tremiam ao rezá-lo.


A Instrução Geral do Missal Romano, no número 147, afirma:


“O Sacerdote inicia a Oração eucarística. Conforme rubrica, ele escolhe uma das Orações Eucarísticas do Missal Romano, ou aprovadas pela Santa Sé. A oração eucarística, por sua natureza, exige que somente o sacerdote, em virtude de sua ordenação, a profira. O povo, por sua vez, se associe ao Sacerdote na fé e em silêncio e por intervenções previstas no decurso da Oração Eucarística, que são as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação após a consagração, e a aclamação “Amém”, após a doxologia final, bem como outras aclamações aprovadas pela Conferência dos bispos e reconhecidas pela Santa Sé”.


E, ainda, número 151: “No fim da oração eucarística, o sacerdote, tomando a patena com a hóstia e o cálice, ou elevando ambos juntos, profere sozinho a doxologia: Por Cristo. Ao término, o povo aclama “Amém”. E no número 236:“A doxologia por meio da oração eucarística é proferida somente pelo sacerdote celebrante principal e, se preferir, junto com os demais concelebrantes, não porém, pelos fiéis”.


A Comissão Litúrgica da CNBB, no Guia Litúrgico Pastoral, insiste:

Não se enfraqueça a força do “Amém” final da oração eucarística pela recitação da doxologia, pois este “Amém” é a ratificação pela assembléia de toda ação de graças e súplica que o sacerdote dirige a Deus, em nome de todos, na oração eucarística”(pág.22).


O meu caro leitor já deve ter percebido que o solene “Amém” com que encerramos a Prece Eucarística não é um simples assentimento a uma narrativa, mas compromisso pessoal de ser Amém, plena associação e participação, na renovação da Nova e Eterna Aliança. Um belíssimo texto de Jean-Marie Roger Tillard faz a seguinte referência:


“Mas nesse Amém tem sua fonte todos os Améns espalhados pela vida cristã; e nele todos são reunidos pelo ministro e oferecidos ao Pai na Ação de Graças, levando consigo todos os solos humanos que eles semearam. O Amém que encerra a anáfora é assim o do Corpo de Cristo recebendo-se como corpo no louvor, na gratidão, na adoração e na confissão de Deus”. (EUCARISTIA – Enciclopédia da Eucaristia, Paulus, S. Paulo pág.553).


Amém é adesão à narrativa feita pelo celebrante, é apoio ao que foi rezado. Que ele seja prece com o coração, com a boca e com a vida. (Cf.Santo Agostinho; Comentário aos Salmos 149). Comecemos o nosso treino coral, aqui na terra, para nos associarmos ao coro celeste, cantando “Amém”.


[1] Doxologia (do grego ‘doxa’, isto é glória) é uma aclamação de louvor (hino de glorificação), muito comum na Sagrada Escritura e na Liturgia.


Dom Paulo Francisco Machado

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