quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DIA DE FINADOS - DIA DA ESPERANÇA


Eu quero morrer de idade avançada, bem velho, bem velhinho mesmo! Mas entendam, velhinho lúcido, capaz de discenir o que é bom ou mal, bonito e feio, controlando a minha conta bancária e decidindo os rumos de minha vida. Acrescento também que na velhice eu tenha uma razoável saúde física, nada de um moribundo em uma cama "esperando a morte chegar...". Se não for assim, acho que não vale a pena sonhar com a velhice.

No meu velório, choro só se for da esposa e dos poucos filhos. Um choro comedido, nada de estardalhaço, muito próprio de quem tem remorso. Que no meu velório os amigos façam uma sincera cara de lamento, mas de sobriedade também, haja vista que para um velhinho a morte já chegou tarde. Depois contemplem a minha finitude, fiquem felizes, dêem algumas gargalhadas, contem algumas piadas, causos e providenciem que a alegria tome conta do recinto, pois velhos amigos se encontraram depois de tanto tempo; os parentes distantes mataram as saudades e, inclusive, logo um dirá:  - Tu só aparece quando morre alguém?  - Quem será o próximo pra gente se vê?  - Deus me livre!  - Vamos marcar um dia desse!" Dia este que nunca chegará a não ser na morte do próximo amigo ou parente.

O meu velório deverá ter o tempo suficiente para que as pessoas consigam me ver, para que possam pensar um pouco em nossa pequenez, fazer uma oração e ouvir a palavra de esperança e fé do Padre. Nada muito extenso, com muito falatório, elogios que só a morte tem o condão de suscitar. Se for para enaltecer as poucas qualidades que tenho, preferível o silêncio obsequioso que nos leva a oração e intercessão necessárias a quem se despediu desta vida e se encontra com a personificação do amor.

Depois me levem em um cortejo rápido, a não ser que queiram os meus amigos e parentes conversarem um pouco mais, até porque, só se verão no próximo enterro e se forem os deles próprios? Não se pode dar "sopa pro azar!". Quando me enterrarem, prefiro estes túmulos modernos onde não há contato com a areia. Vai que é preciso chegar em outra dimensão com o corpo intacto! Melhor se precaver. Cremação? Cruz credo !

Espero que meu semblante seja de alguém que acabou de ver algo maravilhoso! Um lugar ou uma pessoa muito amada! Sabe aquele ar de riso da Gioconda de Da Vinci ? É mais ou menos assim. Acho que consolaria também alguns que insistissem em não querer ver a minha partida.

Eu quero, eu quero, eu quero. Como sou prepotente! O que relato nada mais é do que a esperança que Deus me conceda uma boa morte e uma vida longa, abundante e intensamente feliz. É o que desejo a todos !


Luiz Teixeira

6 comentários:

Antonio disse...

Muito bom... Penso similarmente...
acrescentaria que td não fosse dispendioso, uma vez que, embaixo da terra, o que acontece é muito rápido e invisível.

Um abraço,

Antonio Carlos

Anônimo disse...

Lindo texto. Meu avô morreu tinha qse 100 anos..bem velhinho..porém permaneceu lúcido até o último dia aqui conosco...passou um filme na minha cabeça ao ler este post.

Deus abençoe a tds! :)

Bjs

Camila Nicácio

Nednaldo disse...

Parabéns meu amigo. Belo texto concordo contigo. Desejo o mesmo para meus últimos instantes nesse plano. Deus lhe abençoe.

Rosivânia disse...

Que lindo texto.
Sempre há uma pessoa a quem lembrar... Fiquei emocionada!
Penso logo na minha família e amigos. Quando fala em morte, derrepente bate a carencia e a vontade de estar perto e cuidar do nossos... Ai, compreendemos e o valor de cada um.
Que os planos de Deus seja assim para todos nós.
Abraço.

Antonio Carlos disse...

Olá, camarada Luiz!

Em primeiro lugar, o comentário que a sequência não é meu... Há alguém com o nome igual ao meu, ou querem utilizar meu nome com outros objetivos. (Ainda bem que o comentário me caberia... rsrsrs)

Parabéns pelo texto mais uma vez.

Restou-me uma dúvida:na intactalidade do seu corpo em cadáver, vc não doaria seus órgãos??

Sei q tudo são conjecturas, próprias de um crônica.

Um abraço fraterno,

Antonio Carlos.

Antonio Carlos disse...

Errata: faltou a palavra "abre" em "..., o comentário que ABRE a sequência não é meu..."