domingo, 18 de abril de 2010

COMPARTILHANDO EXPERIÊNCIAS


 A NUVEM E A DUNA

“Todo mundo sabe que a vida das nuvens é muito movimentada, mas também muito curta”, escreve Bruno Ferrero. E vamos a mais uma história:

Uma jovem nuvem nasceu no meio de uma grande tempestade no Mar Mediterrâneo. Mas sequer teve tempo de crescer ali; um vento forte empurrou todas as nuvens em direção à África. Mas ao chegar ao continente, o clima mudou: um sol generoso brilhava no céu, e embaixo se estendia a areia dourada do deserto de Saara. Entretanto, assim como acontece com os jovens humanos, também acontece com as jovens nuvens: ela resolveu desgarrar-se dos seus pais e amigos mais velhos, para conhecer o mundo.

- O que você está fazendo? – reclamou o vento. - O deserto é todo igual! Volte para a formação, e vamos até o centro da África, onde existem montanhas e árvores deslumbrantes!


Mas a jovem nuvem, rebelde por natureza, não obedeceu; depois de muito passear, reparou que uma das dunas estava sorrindo para ela. Viu que ela também era jovem, recém-formada pelo vento que acabara de passar. Na mesma hora, apaixonou-se por sua cabeleira dourada.

- Bom dia – disse. - Como é viver aí embaixo?

- Tenho a companhia das outras dunas, do sol, do vento, e das caravanas que de vez em quando passam por aqui. Às vezes faz muito calor, mas dá para agüentar. E como é viver aí em cima?

- Também existe o vento e o sol, mas a vantagem é que posso passear pelo céu, e conhecer muita coisa.

- Para mim a vida é curta – disse a duna. – Quando o vento retornar das florestas irei desaparecer.

- E isso a entristece?

- Me dá a impressão que não sirvo para nada.

- Eu também sinto o mesmo. Assim que um novo vento passar, irei para o sul e me transformarei em chuva; entretanto, esse é meu destino.

A duna hesitou um pouco, mas terminou dizendo:

- Sabe que, aqui no deserto, nós chamamos a chuva de Paraíso? Já escutei várias lendas contadas por velhas dunas. Elas dizem que, após a chuva, nós ficamos cobertas de ervas e de flores. Mas eu nunca saberei o que é isso, porque no deserto chove muito raramente.

- Se você quiser, eu a posso cobrir de chuva. Embora tenha acabado de chegar, estou apaixonada por você, e gostaria de ficar aqui para sempre.

- Quando a vi pela primeira vez no céu, também me enamorei – disse a duna. – mas se você transformar sua linda cabeleira branca em chuva terminará morrendo.

- O amor nunca morre – disse a duna. – Ele se transforma; e eu quero mostrar-lhe o Paraíso.

E começou a acariciar a duna com pequenas gotas; assim permaneceram juntas por muito tempo, até que um arco-íris apareceu.

No dia seguinte, a pequena duna estava coberta de flores. Outras nuvens que passavam em direção à África, achavam que ali estava parte da floresta que andavam buscando, e despejavam mais chuva. Vinte anos depois, a duna havia se transformado num oásis, que refrescava os viajantes com a sombra de suas árvores.

Tudo porque, um dia, uma nuvem apaixonada não tivera medo de dar sua vida por causa do amor.

Paulo Coelho

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