Ontem (17) conheci um Senhor muito simpático e cheio de vida no auge de seus 92 anos, falo de José Saldanha Menezes Sobrinho, ou simplesmente Zé Saldanha, como gosta de ser chamado, é o cordelista mais velho em atividade no Rio Grande do Norte, um dos poucos da sua idade exercendo a Literatura de Cordel no Brasil.
Nascido e criado na Fazenda Piató, em Santana dos Matos, mudou-se várias vezes de casa com a família até fixar residência em Natal, mas nunca deixou de ser um matuto sertanejo, ligado às suas raízes.
O primeiro folheto foi "O preço do algodão e o orgulho do povo", publicado em 1935, aos 17 anos. "O algodão era a riqueza da época, chamava-se o ouro branco do Nordeste".
Fiquei surpreendida com suas colocações acerca da vida e das composições que segundo Zé, são diárias.
Amante do computador, ao contrario do paraíbano Ariano Suassuna que não abre mão da máquina de datilografar, o cordelista disse que aos 80 fez um curso e até hoje usa a máquina na hora de compor.
Deixo com vocês um trecho de um dos cordéis dos mais de 200 já publicados, com muito humor, deste Senhor muito bem disposto a pregar a cultura popular do nosso estado.
Viva a Zé!
Viva a literatura de cordel!
Viva a vida aqui representada em poesia! MATUTO NOS AVIÃO
Lembrança do autor, de sua viagem à Brasília.
Me dero uma passage, dotô
Viagei de aeroprano
Muito pro riba das nuve
Bem perto do soberano
Eu dissi: eita matutão
Viagei ai de avião
Purriba dos aceano...
Sô matuto veio, dotô
Mais sô cabra de cartaz;
- Incontrei nos avião
Uma moça e um rapaz
Com a maió aligria
Tudo me dando bom dia
Meus amigos até de mais.
A moça dos avião
Bonita como as arora;
Veio me trazê um prato
Bem preparado na hora
Falou comigo contente
Mais cafala deferente
Dessas línguas lá de fora;
A comida era bôa e bem feita
Mais tava um pouquinho insouça;
Porém eu sou prevenido
Trazia sá numa bossa
Sarguei e miti o pau
Mais veio um ta de curau
Num gostei do curau da moça...
...
Viviane Rodrigues
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