Gabriel Chalita - Deputado Federal
No corredor das comissões da Câmara dos Deputados, o petista carioca Alessandro Molon saúda o neo peemedebista Gabriel Chalita: “Meu prefeito”. Chalita não esconde a satisfação. O sonho do ex-tucano e ex-PSB, pré-candidato à prefeitura de São Paulo, é disputar a eleição, em 2012, com o apoio do PT. O plano do deputado federal e de seu guru, o vice-presidente Michel Temer, é o seguinte: Chalita encabeça a chapa com um petista na vice. Eleito prefeito, na eleição seguinte Chalita apoiaria o candidato de Dilma Rousseff ao governo do estado. Falta avisar muita gente.
Que há simpatias, dentro do PT, para o apoio a Chalita, não resta dúvida. Entre os “chalitas”do partido de Lula estão o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o deputado federal Cândido Vaccarezza e os estaduais João Antonio e Edinho Silva. A aposta deles é de que Chalita seria o candidato ideal porque roubaria votos do PSDB na classe média. Contra, estão, é claro, a senadora Marta Suplicy, que almeja voltar a ocupar a prefeitura, e seu entourage, com grande poder dentro do partido em São Paulo. Já o ex-presidente Lula trabalha pelo lançamento do ministro da Educação, Fernando Haddad.
Os principais empecilhos no caminho do ambicioso Chalita são mesmo os ex-aliados Gilberto Kassab e José Serra. Pupilo de Geraldo Alckmin, Chalita comprou briga com Serra ao apoiar a candidatura à Presidência, em 2006, do marido de Lu, de quem é, aliás, biógrafo. A partir daí, reclama, virou alvo preferencial da mídia paulista. De fato, para quem era considerado “garoto-prodígio”do PSDB, foi só romper com Serra para o ex-secretário de Educação de Alckmin ser apontado como o responsável pela queda de São Paulo nos rankings educacionais e acusado de ter deixado um rombo de 4 milhões de reais em sua gestão.
O apartamento duplex que comprou em Higienópolis por 4,5 milhões de reais, em 2004, e que hoje vale quase o dobro virou alvo de especulações – e não só imobiliária. Uma representação na Justiça Eleitoral questionava o salto patrimonial do então secretário, de 741 mil reais, em 1998, para 1,928 milhão, em 2002. Chalita justificou a aquisição com a venda de imóveis recebidos em herança. É no apartamento de 1,5 mil metros quadrados, com piscina, que o atual deputado federal costuma receber o variado leque de amigos para disputados jantares. Os habitués vão da escritora Lygia Fagundes Telles aos autores de novelas globais Walcyr Carrasco e Gilberto Braga, além de religiosos como o arcebispo de São Paulo dom Odilo Scherer.
Fonte: Carta Capital
O pior, para Chalita, foi ver sua reputação como “escritor”e “filósofo”descer pelo ralo depois de virar desafeto de Serra. “Antes de brigar com ele meus livros não eram chamados de “autoajuda”, queixa-se o autor de 54 obras e que afirma ter vendido mais de 10 milhões de exemplares. Embora seja difícil não enquadrar como “autoajuda” títulos como “Cartas entre Amigos”, best seller que reúne sua correspondência com o padre Fábio de Mello, desde a briga com Serra a ignorada obra de Chalita passou a ser escrutinada duramente pela mídia, principalmente, a paulista. Ganhou epítetos como “biógrafo da Vanusa” (por causa de coautoria em livro sobre a cantora, de 1997), “padre Marcelo Rossi da política” ou “marquês de Rabicó da Renovação Carismática”. Mais recentemente, Chalita recebeu o apelido de “guru do subsolo” de uma colunista, após a divulgação de que vídeos com pensamentos seus estavam sendo veiculados na TV Minuto, exibida aos usuários do metrô de São Paulo. A intenção oculta seria propagandear a pré-candidatura a prefeito por ordens do governador Geraldo Alckmin, que teria interesse em ver o ex-pupilo no cargo para se vingar de Serra. Ele nega. “Não há nenhuma chance de eu ser o candidato de Alckmin. Ainda somos próximos, mas ele vai apoiar um nome do PSDB”, afirma Chalita. “O Alckmin não faz essas coisas de se vingar. Hoje tenho muito mais chance de ter o apoio do PT do que do PSDB”.
“Esquece o Serra”, costuma dizer Michel Temer. O vice-presidente é o atual conselheiro de Chalita, que ao longo da vida sempre teve mentores. A primeira, como gosta de contar, foi dona Hermelinda, senhora que vivia num asilo visitado com frequência pela mãe em sua infância e que lhe apresentou Clarice Lispector e Jean Paul Sartre. Depois, Franco Montoro, quando já havia se tornado vereador, em Cachoeira, aos 19 anos, pelo PDT (fruto da admiração por Darcy Ribeiro). Montoro o atraiu para a capital e fez dele seu assistente na pós-graduação em Direito, na PUC de São Paulo, cardeira herdada por Chalita com a morte do tucano.
“Foi por causa do Montoro que entrei no PSDB. Era um partido cheio de bandeiras e que não tinha fome de poder, mas um projeto de País”, diz o deputado. Ao sair, criticou justamente a “falta de projeto” da legenda. Mesmo defeito que vê no atual prefeito de São Paulo. “Kassab poderia ser uma novidade na política, mas lhe falta visão humana. Ele é um prefeito sem projeto, que não está focado nos problemas da cidade. Está mais preocupado em fundar um partido”. No entorno do pré-candidato atribui-se a Kassab o pedido de cassação de Chalita, feito na quarta-feira 13, pelo ex-jogador Marcelinho Carioca no Tribunal Superior Eleitoral por infidelidade partidária. Marcelinho herdaria a vaga por segundo suplente pelo PSB, legenda que Chalita trocou pelo PMDB e que costura uma grande aliança com Kassab.
Ligado à Igreja Católica desde a infância, o virtual candidato à prefeitura de São Paulo foi seminarista, mas trocou a batina pela política por influência de uma prima, cujo marido concorria à prefeitura da cidade. Permaneceu, porém, com um pé no catolicismo – é apresentador no canal Canção Nova -, apesar de considerar o estado laico “fundamental”. Na eleição presidencial, em 2010, ajudou Dilma a reverter a campanha difamatória em torno do aborto.
Ele conta ter conhecido a presidenta em um evento no interior de São Paulo, em 2008, e “adorado”. A admiração teria sido uma das causas de sua saída do PSDB. “Saí para apoiar a Dilma”. Na verdade, desde a indisposição com Serra, Chalita perdeu todo o espaço que tinha no partido, a ponto de apenas um secretário do governo Alckmin ter ido à sua posse na Academia Paulista de Letras, em 2006.
Aos 42 anos, com 1,89 metro de altura e jeito de menino, porte atlético conservado por corridas matinais, Chalita é um homem charmoso que não se casou até agora. “Estou solteiro, mas não sou celibatário”. No ano passado, o atual deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), em uma resenha sobre o livro de Chalita com o padre Fábio, afirmou haver certo conteúdo “homoafetivo” nas cartas. Uma das qualidades de Chalita, é preciso que se diga, é não fugir a nenhuma pergunta. “Achei interessante a abordagem do Jean, respeito, mas Carlos Drummond de Andrade trocou cartas com amigos, Vinícius de Moraes também. A sensibilidade não é exclusividade de quem é mulher ou gay”.
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