sexta-feira, 8 de agosto de 2008

PROSA E POESIA


Consumo; logo, sou pai

Em nossa sociedade capitalista, cresce a produção de bens supérfluos e cada vez mais acumulamos objetos, roupas e tantas "tranqueiras" que nunca iremos usar. Segundo o saudoso Dom Helder Câmara, profeta da igreja do Brasil: "As roupas e sapatos que acumulamos pertence aos pobres". Ou seja, temos que olhar para os pais excluídos do nosso sistema econômico que nunca irão ter as cinco ou dez camisas, os três ou cinco pares de sapatos, as sete ou dez calças que temos mofando em nossos guardas roupas. Olha que usei o plural, TEMOS. Com tal afirmação quero dizer que também o padre, enquanto pai espiritual, também recebe muitos presentes e muitas vezes nem sequer usa ou se beneficia da caridade das suas paroquianas. Às vezes, quando morre um padre querido de uma paróquia ou de um convento, os seus confrades fazem filas na porta do quarto para finalmente, o superior dividir os presentes acumulados durante anos de comemorações de aniversários e outras homenagens feitas pelos seus paroquianos e confrades.

Todos nós, repito: TODOS NÓS! temos que nos vigiar. É bom darmos uma olhada em nosso guarda roupa se de fato costumamos usar todas as camisas, blusas, os sapatos e as calças. Se de fato ouvimos todos os Cds, etc. É pensando no acúmulo excessivo em nossas famílias que a nossa Paróquia de Santo Antônio, a exemplo de diversas paróquias, ONGs e Associações do Brasil, lançaram o chamado "Dia da Caridade", no qual se recolhem toda e qualquer doação para os pobres, desde alimentos até camas, roupas e material de construção.

Neste mês, os melhores presentes para os pais não são os badalados celulares com mil e uma utilidades, a TV de tela plana ou outros presentes endeusados pelo mercado e pela mídia. Sem dúvida alguma, a presença amorosa, o diálogo franco e amigo ainda é o melhor presente na vida destes homens, muitas vezes abandonados em abrigos ou recolhidos em verdadeiros depósitos em nossas casas.

O grande perigo do sistema neoliberal é a conhecida exclusão social e a baixa estima dos menos favorecidos. Imagine você, um filho que, ao passar em uma loja vê na vitrine aparelhos de celulares, tvs, gravadores, camisas, etc e sabe que, por mais que tenha amor ao seu pai, ele não vai poder comprar tal presente. Com certeza, este filho, além de se sentir fora da chamada sociedade moderna e civilizada, vai também ter sentimentos de fracasso por não ter um emprego e ganhar um bom salário. Em resumo, os meios de comunicação social nos ensinam que o verdadeiro amor aos pais se mede pelo presente e não pelo respeito, e quanto mais caro for a compra, maior será o amor.

Segundo as sagradas escrituras, "Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc. 2, 52). Foi durante 30 anos que Jesus, a criança, o adolescente, o jovem e o adulto, se espelhou no seu pai adotivo, São José, toda a sua vida. Sem dúvida alguma foi São José, através de sua vida simples de carpinteiro, o exemplo visível para Jesus também ser trabalhador. Foi São José que não apenas educou Jesus, mas o alimentou e o fortificou para assumir a sua missão de Filho de Deus. Portanto, São José sem dúvida alguma é para todos os pais um exemplo de companheirismo, amizade e amor para com os filhos. Com tal afirmação, quero dizer que não basta consumir para ser pai, é preciso assumir a paternidade em todas as suas dimensões.

Finalizo este artigo lembrando do meu pai, Manoel Artur de Miranda. Homem do campo, trabalhador rural que não recebeu celular, carro ou moto dos seus 7 filhos, mas muito amor, não de palavras, mas retratado no trabalho do dia-a-adia na roça. Se hoje sou padre, não foi porque veio um anjo do céu e me disse: "Petrônio, Deus te chama, vá para o convento". Não, se sou Frade Carmelita, se fiz duas faculdades, uma em Belo Horizonte e outra em São Paulo, se sou Pároco da Paróquia de Santo Antônio de Jacobina-BA, é porque tive o exemplo do meu pai que não tinha preguiça de trabalhar na enxada para alimentar e educar a todos nós. Nele, contemplei e contemplo o rosto de Deus pai, que ama; mas, também, corrige quando é necessário. Com ele, com ou sem presente, éramos e somos felizes. OBRIGADO, PAPAI.

Frei Petrônio de Miranda - Frade da Ordem Carmelita

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