A exemplo do que faziam antigamente os vovozinhos – não é para menos: já tenho 71 anos! – o artigo de hoje vai ser... Uma estória para crianças. Crianças de 7, 20, 40 ou 80 anos! Era uma vez um sábio que foi convidado a proferir a aula inaugural numa universidade de renome internacional. Ele apareceu no salão nobre levando um grande e bonito vaso de vidro, no formato de garrafa, que colocou sobre a mesa.
Os professores e alunos presentes olharam uns para os outros, se perguntando qual a finali-dade de semelhante objeto para uma palestra tão esperada. O assunto que o mestre deveria aprofundar era nada mais nada menos do que o sentido da vida... e da morte!
Após a apresentação feita pelo reitor da universidade, o convidado, sem dizer nenhuma palavra e com muito cuidado, começou a enfiar no garrafão, uma a uma, doze pedras re-dondas, do tamanho das bolas de tênis. Elas ocuparam todo o recipiente, até o gargalo.
Em seguida, o mestre perguntou aos presentes: “O vaso está cheio?” “Sim”, responderam em coro os alunos. Ele, porém, retrucou: “Não é verdade; há ainda muito espaço”.
Retirou, então, de debaixo da mesa, uma caixinha de madeira. Abriu-a e, com uma colher, passou a retirar dela a areia que continha, passando-a para o vaso. Lentamente, ela foi se infiltrando em todas as cavidades, até encher o recipiente.
O mestre perguntou novamente: “O vaso está cheio?” Não todos – porque alguns já come-çavam a duvidar –, mas um grande número ainda respondeu: “Sim!”
Um deles, que se julgava mais sabido e inteligente, respondeu logo: “Para mim, a lição é esta: mesmo tendo a agenda cheia de compromissos, se a gente quer, sempre encontra nela um lugarzinho a mais para fazer o que se quer. Ter tempo é questão de preferência”.
“Ótima resposta – retrucou o mestre –, mas há outro ensinamento mais importante: se não se começa por colocar no vaso as pedras grandes, jamais se poderá fazê-lo depois de ter jogado a areia e a água. Assim acontece com a nossa vida. Precisamos saber escolher. Quais são as nossas prioridades? A saúde? A família? Os amigos? O emprego? O dinheiro? Devemos saber distinguir o que é essencial do que é secundário. Não confundir as coisas. Antes as pedras, depois a areia e, em seguida, a água”.
O sábio tinha razão. Quando a atenção e a vontade são dirigidas a mil coisas diferentes, acaba-se por não ter mais tempo ou condições para escolher o que realmente interessa e vale à pena. Se tudo é prioridade, nada é importante! O apego a ninharias acaba por ofuscar a única coisa necessária, como lembrava Jesus a Marta: «Marta, Marta! Tu te preocupas e te inquietas com muitas coisas. Mas uma só é necessária. “Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (Lc 10,41-42).
Talvez foi pensando nessas palavras que São Paulo, alguns anos mais tarde, escreveu aos cristãos de Corinto: «Não percamos a coragem: se o nosso físico vai se desfazendo, o nosso interior vai se renovando dia após dia. A nós, que temos o olhar fixo no invisível e não no visível, os sofrimentos presentes são leves e nos produzem uma carga incalculável de glória. Pois as coisas visíveis duram apenas um momento, enquanto as invisíveis permanecem para sempre» (2Cor 4,16-18).
A vida é feita de escolhas. A cada instante, precisamos optar. Até mesmo o fato de deixar as coisas acontecerem, sem nada fazer para dar-lhes uma orientação e um sentido, é uma (triste!) decisão... E cada escolha acarreta conseqüências imprevisíveis e incalculáveis, tanto no bem como no mal: «O que o homem semeia isso também colherá. Quem semeia no egoísmo, colherá a morte. “Quem semeia no Espírito, colherá a vida» (Gl 6,7-8). O dia 31 de dezembro afunda suas raízes no dia 1º de janeiro!
Dom Redovino Rizzardo
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