Que petulância, que falta de noção, que desrespeito! Quem pensam que são estas “lideranças de igrejas evangélicas” para exigir da candidata Dilma Roussef que assine uma “carta à nação” em troca do apóio eleitoral dos seus fiéis?
Os autoproclamados enviados de Deus querem que ela se comprometa, caso seja eleita, a vetar a união homossexual e a adoção de crianças por pessoas do mesmo sexo, na mesma linha da onda que já vêm fazendo em torno da descriminização do aborto.
Trata-se, antes de tudo, de um desrespeito ao Congresso Nacional, que é quem deve discutir e deliberar sobre estes temas. Custo a acreditar no que leio publicado no jornal, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Já pensaram se cada seita ou tribo, torcida de futebol ou escola de samba, sindicato patronal ou de empregados, clube da terceira idade ou associação de creches, qualquer instituição ou entidade se julgar agora no direito de exigir dos candidatos uma “carta à nação” em defesa dos seus interesses?
Os setores mais conservadores da igreja católica ainda não chegaram a tanto, mas seus bispos e padres estão agindo exatamente como os pastores dos dízimos, transformando seus altares em palanques e distribuindo panfletos inspirados na TFP (Tradição, Família e Propriedade), o decadente braço religoso da extrema-direta brasileira, que já colocou a cabecinha de fora.
Claro que a oposição está gostando da brincadeira. Seus líderes mais afoitos estão achando que descobriram de repente um tesouro de votos, beijando terços por onde passam, tomando bençãos e mastigando hóstias, como se estivéssemos numa campanha para a sucessão de Bento 16 e não para eleger o presidente do Brasil.
Daqui a pouco, só está faltando mesmo convocar mais uma “Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade”, como os mesmos entes religiosos e os mesmos orgãos de imprensa fizeram em 1964, e levaram o Brasil para o fundo do buraco de vinte anos de ditadura militar.
Já deve ter gente se preparando para recolher o “ouro para o bem do Brasil”, que fez a fortuna de alguns malacos naquela época. Levaram até a aliança de ouro da minha avó, coitada, que tinha medo da “invasão comunista”.
Como sabem os leitores do Balaio, ao contrário de muitos dos meus colegas blogueiros e colunistas, não sou de dar conselhos a candidatos que devem entender de política e de eleições um pouco mais do que eu. Como qualquer cidadão brasileiro, no entanto, preocupado com o que anda acontecendo neste inacreditável segundo turno, apenas peço encarecidamente a Dilma Rousseff que não assine carta nenhuma.
Não vale a pena querer ganhar eleição a qualquer preço. A conta a ser paga, depois, é alta demais.
Ricardo Kotscho - Blog Balaio do Kotscho
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