domingo, 6 de junho de 2010

PARADOXOS DO CONSUMISMO



Desde o advento da sociedade de consumo em massa confundimos a busca da felicidade com a quantidade de coisas que podemos possuir.  Acirrou aquele velho dilema do ter e do ser. Para manter essa sociedade funcionando, gerando renda e emprego parece que não há outra alternativa se não consumir, não importa o que seja, nem que para isso seja necessário esgotar os recurso disponíveis no planeta e esperar que alguma solução caia em algum momento do céu. Não dá para entender como é que aquelas gavetas lá de casa estão tão cheias de lixo tecnológico, muitos carregadores de celulares, calculadoras, cpus, telas de computador, relógios sem pilha e um mundaréu de trastes que foram comprados e quase nunca usados. E outros estão chegando e vão ter o mesmo destino, a gaveta, ou o lixão uma vez que é isso que nos possibilita o nosso grau de civilização. Quanto mais coisas inúteis, maior a sensação de perda de felicidade. Quem foi mesmo que disse que ela está dentro de nós e não perdida no cipoal do consumismo?

O excesso continua sendo um forte apelo de marketing e é por isso que muita gente tem aparelhos portáteis que são capazes de fazer muito mais do que o seu dono supõe. Mesmo assim é um sonho de consumo. Os carros com grande potência são os grandes chamarizes para identificar os bem sucedidos, os campeões, os felizes, ainda que não possam usar a força do motor por causa dos grandes congestionamentos e dos limites de velocidade. Muitos possuem carros quatro por quatro sem nunca terem saído do asfalto, mas ainda assim é ser diferenciado exibir o distintivo no capô ou na traseira. Os faróis brancos são totalmente desnecessários e ofuscantes, mas funcionam como uma grande trombeta para que todos saiam da frente, abram alas para o rei do consumo. Até a campanha do agasalho mudou de qualidade, antes era movida pela solidariedade a um ser desprovido, hoje tem o apelo de limpar o guarda roupa e dar espaço para novas coleções de inverno.
Somente 440 kms de ciclovias, esta é a crítica que o Le Monde fez recentemente a prefeitura de Paris. Até 2014 a cidade vai ter 700 kms de ciclovias, muito mais do que o metrô. Em 2014 vai ser possível ir de uma ponta a outra da cidade de bike. Quando outras sociedades juntam carros na garagem para fugir dos rodízios, ou usar de acordo com ocasião, outros povos estão usando um veículo movido a ser humano. A velha e boa bicicleta é o símbolo da retomada de consciência que não se pode nem revogar a lei da física, dois corpos no mesmo espaço ao mesmo tempo, nem da finitude dos recursos naturais. Em outros lugares a bicicleta é aquele veículo que circula sobre as calçadas e não é alcançada pelo código de trânsito, ou substituída pelos patinetes eletrônicos de rodas paralelas. Não é possível dizer quem é mais feliz, se uma pessoa montada em sua poderosa, poluente, barulhenta moto ou se um ciclista em sua velô, uma vez que a felicidade está contida no âmago das pessoas, mas contribuir para que a sociedade seja mais humana, pacífica, em harmonia com a natureza certamente produz alguma felicidade.
 
Herodótodo Barbeiro - jornalista

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